O país real e o país imaginário. O que se viu na Câmara reflete o Brasil conservador de verdade.

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O país assiste ao espetáculo na Câmara. Imagem do Portal G1.

                                   O Brasil real foi visto ontem no Congresso Nacional. Quem acha que somos uma imensa Avenida Paulista, se engana. Quem imagina que as favelas são como se vê nas novelas, pior. O país de verdade é aquele representado pelos 511 deputados que compareceram à sessão do impeachment. Receberam 100 milhões de votos em 2014. Duas vezes a votação de Dilma. Saíram dos grotões, dos sertões abandonados, onde a presença do Estado moderno é vista apenas nas placas de sinalização em rodovias esburacadas ou estradas de terra. A maioria deles foi eleita por meio do compadrismo local – ou em troca de cestas básicas, dentaduras, lugar na fila do posto de saúde e coisas que tais. Este é o Brasil real.

                                   Vejo nas redes sociais que muita gente ficou espantada: “Eles não sabem nem falar…”. É isso mesmo. Quando vemos parlamentares nos telejornais, elegantes e articulados, são os líderes, a elite do Parlamento brasileiro. E são poucos. A grande massa é inculta, semialfabetizada e – claro – esperta além da conta. De um ponto de vista didático, a sessão de ontem, com seis horas de transmissão ao vivo no horário nobre, teve um saldo muito positivo: mostrou claramente quem são eles. O Congresso Nacional é um reflexo perfeito do Brasil: somos conservadores, tementes a Deus, aguardamos um messias, adoramos gestos de força e truculência. Só isso explica Jair Bolsonaro ter 8% das intenções de voto para presidente, quase empatado com Geraldo Alckmin.

                                   Por falar em Bolsonaro, em uma entrevista na TV, disponível nas redes sociais, o deputado disse: “Se chegar a ser presidente, no mesmo dia mando fechar o Congresso e dou um golpe…”. Mesmo sem considerar esse tipo de exemplo radical, vemos que os parlamentares estão cercados por uma tendência conservadora, reacionária, que pretende fazer regredir importantes conquistas da sociedade. Querem a revogação do Estatuto do Desarmamento e do Código da Infância e da Juventude; querem aumentar o encarceramento; são contra a pesquisa com células-tronco embrionárias; contra a igualdade de direitos entre parceiros do mesmo sexo; são contra os poderes de investigação do Ministério Público. No fundo, querem reescrever a Constituição de 1988. E vão “eleger” Michel Temer e salvar Cunha.

                                   Não podemos reclamar. Os caras foram escolhidos por voto direto e livre. Assistindo ao circo midiático de ontem, ficou bem claro que há um país real e outro imaginário. Este último, que reúne sonhadores e idealistas, homens de bem e estudiosos, imagina uma pátria mais justa, honrada e cheia de amor ao próximo. Faz lembrar o que disse aquele palestino há dois mil anos, em nome de quem se cometeram barbaridades.                    

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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