
O chefão da fronteira fuzilado, Foto da perícia;
Jorge Rafaat Toumani, respeitável empresário do setor pecuário, 56 anos, era até quarta-feira da semana passada o “Rei da Fronteira”, o mais poderoso traficante de Pedro Juan Caballero, na divisa do Paraguai com o Brasil. Também era conhecido como Sadam, dizem que por uma descendência árabe. Ele fornecia maconha por atacado para as maiores facções criminosas brasileiras, o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC). Há pouco mais de um ano, no entanto, houve um desentendimento comercial entre os grupos.
Uma fonte da Polícia Federal me contou como foi o desacerto entre os criminosos. Durante uma reunião entre o traficante paraguaio e os representantes do crime organizado brasileiro, na cidade de Ponta Porã (MS), Sadam propôs um aumento vertiginoso no preço do quilo da maconha. Também queria aumentar o grama da cocaína colombiana, que chega pura à fronteira brasileira por meio do cartel que o empresário comandava até a semana passada. Não houve acordo e as facções brasileiras abandonaram o encontro fazendo ameaças. Começa aí a guerra entre o grupo CV-PCC e o cartel paraguaio.

A metralhadora ponto 50: M240MAG. Foto da perícia.
Após o rompimento com o a quadrilha de Pedro Juan Caballero, os traficantes brasileiros entraram em contato com o principal concorrente de Rafaat, um homem ressentido e violento. Jarvis Chimenes Pavão comandava um grupo menor na fronteira e tinha interesse nos poderosos sócios brasileiros. Seria uma garantia de boas vendas e de poder de fogo. Assim começou a conspiração que resultou na morte de Rafaat. Foram recrutados mercenários paraguaios (ex-militares), brasileiros (do CV e do PCC), colombianos (ligados à AUC, milícia paramilitar anticomunista) e de outros países. Investigadores do DEA, agência americana de combate às drogas, acreditam que ex-combatentes do IRA (Exército Republicano Irlandês) podem estar no grupo recrutado para pegar Rafaat. Gente do IRA já foi encontrada na Colômbia, dando curso avançado de explosivos para guerrilheiros das FARCs. E o resultado dessa mobilização não decepcionou.
Na noite da quarta-feira 15 de junho, Jorge Rafaat dirigia um Jeep Hummer blindado por avenidas do centro de Pedro Juan Caballero. Com ele, em outros carros, 30 seguranças faziam um comboio protetor para o chefão do tráfico. De repente, em um movimentado cruzamento, uma caminhonete Toyota SW4, roubada na Argentina dias antes, avança o sinal e bloqueia a passagem do traficante. De dentro da Toyota, um ex-militar brasileiro, Sérgio Lima dos Santos, 42 anos, dispara 400 tiros de uma metralhadora norte-americana M240MAG, calibre 50 milímetros, arma de guerra usada como anticarro e antiaérea. Cerca de 120 tiros atingiram o veículo blindado de Rafaat, que morreu na hora. No mercado negro essa metralhadora custa 150 mil dólares.

Sérgio Lima dos Santos, o pistoleiro carioca.
Nove seguranças do traficante paraguaio ficaram feridos no tiroteio, que durou 25 minutos. Sérgio, que é um dos chefes do tráfico ligado ao Comando Vermelho (CV), foi atingido por tiros de fuzil e está sob custódia, em estado grave, num hospital da região. O confronto foi tão violento, que o Exército brasileiro colocou tanques e tropas nas ruas de Ponta Porã, decretando toque de recolher. Sérgio Lima dos Santos, o pistoleiro carioca que matou Rafaat, tinha mesmo que ter sido milita no Rio de Janeiro. Só uma pessoa com treinamento específico seria capaz de operar com precisão a metralhadora ponto 50. Sérgio tem experiência de combate nos enfrentamentos com bandidos rivais e policiais na área do Morro do Fogueteiro, centro do Rio, sua base operacional.
Neste domingo (19 jun) o jornal paraguaio ABC Color, um dos mais importantes do país, publica que o poder na fronteira mudou de mãos. Jarvis Pavão está à frente dos negócios do tráfico. Mas quem manda é o PCC. A publicação informa que um brasileiro do PCC é o novo chefão da fronteira. O sujeito não é conhecido, mas atende pelo apelido de “Galant”.
Matéria fantástica. Felizmente surgiu um repórter de verdade para contar o que ocorreu na fronteira. é impressionando. Nunca se viu nada igual no Brasil. Parabéns Carlos Amorim
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Obrigado pelo comentário.
Continue participando.
abs
Camorm
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Adorei a materia….
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Bom dia Carlos!
Comecei a acompanhar o seu site após ler o livro Assalto ao Poder, muito obrigado pelas informações compartilhadas, posso dizer que foi no mínimo um choque de realidade da minha visão como cidadão em relação ao nosso país.
Não imagino qual o impacto de uma noticia como essa em nosso dia a dia, além de ser triste ver o bloqueio midiático que existe em reportagens tão importantes quanto essa.
Com exceção do jornal da cultura, que procura em geral mostrar sempre dois pontos de vistas diferentes me sinto como um cego quando falamos de jornalismo no Brasil.
Obrigado,
Lucas
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Carlos Amorim, cuidado, nao podemos perder vc, o trabalho que a polícia nāo faz, vc nos dá o prazer de conhecer, siga em frente…
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A arma não era essa tal MAG que você citou e nem tinha 50 milimetros.
O calibre é .50 de 12,7mm.
A arma era um browning M2.
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Bom dia. Sou professor de História e pesquiso sobre luta armada no Brasil. Meu mestrado foi sobre o capitão Carlos Lamarca (http://livros01.livrosgratis.com.br/cp075995.pdf). Agora, depois de alguns anos, resolvi retomar os estudos e escrever sobre os movimentos guerrilheiros no Brasil. Minha abordagem é o pensamento mítico e o prefácio de seu livro, a citação sobre Canudos, me deu o mote que precisava, pois pretendo escrever sobre aspectos messiânicos da luta armada no Brasil, da Coluna Prestes ( O cavaleiro da esperança ) à Guerrilha do Araguaia. Gostaria de poder contar com sua colaboração, pois preciso publicar alguns artigos antes de escrever o projeto definitivo.
Desde já agradeço a atenção.
Abraços
Zenir
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Amorin, boa tarde.
Sei que meu comentário é extemporâneo, mas gostaria de tirar um dúvida. Essa metralhadora não seria uma M2 Browning .50?…..a Metralhadora M240 é uma metralhadora portátil de 7,62mm de calibre, se estiver equivocado peço desculpas!
Forte abraço!
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Vc tem razão. Não era à m240. Muito obrigado
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