Olimpíada do Rio dá show de tolerância e convivência entre inimigos. E a estrela da festa é o povo brasileiro, que mais uma vez encanta o mundo. Enquanto isso, no pé da página, discutimos a cassação de Eduardo Cunha e o impeachment de Dilma. Nada que não possa esperar.

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Atletas das Coréia do sul e do norte, inimigas no mundo real, tiram selfies juntas no Rio. Foto de divulgação.

Apesar do fraco desempenho dos nossos atletas e do fiasco da seleção olímpica de futebol masculino, que pode até ser eliminada dos jogos, os brasileiros encantam o mundo com um espetáculo de convivência e tranquilidade. A abertura dos jogos dobrou a mídia mundial, derretida em elogios ao Patropi. De fato, o país tropical, ao som de Jorge Benjor, fez o mundo cantar e dançar. Até agora (terça, 9 ago), os únicos incidentes dignos de nota foram resultado da própria competição, com quatro atletas feridos em consequência da vontade de ganhar no atletismo e no ciclismo. Fora isso, pouco se tem a registrar. Mais uma vez mostramos que poucos povos sabem fazer uma grande festa como o brasileiro. No quadro de medalhas, estamos em 11º lugar.

É claro que há alguns problemas. A segurança desorganizada produziu filas enormes no acesso às competições. Faltou água, banheiros limpos, comida e coisas do gênero. Mas o transporte funciona. O aparato policial-militar inibe transtornos maiores, apesar de que não impede pequenos furtos na Vila Olímpica e outras cositas. Dois boxeadores foram presos por tentativas de assédio sexual, um do Marrocos e outro da Namíbia. Um irlandês foi apanhado em um esquema milionário de superfaturamento de ingressos para as provas olímpicas, coisa já vista da Copa do Mundo de 2014. Nada de mais. Em outras Olimpíadas, como na de Atlanta (EUA), vimos momentos dramáticos. Aqui, corre tudo em ritmo de samba. Ou de bossa nova, com Gisele na passarela.

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O véu islâmico e o biquíni.

Além do mais, inimigos históricos se encontram tranquilamente no Rio. As duas Coréia, do sul e do norte, adversárias no mundo real, tiram selfies juntas na Cidade Maravilhosa. Jogadoras muçulmanas de vôlei de praia, cobertas até os pés e com o véu tradicional islâmico, disputam partidas em Copacabana com mulheres ocidentais em biquínis sumários. Uma esgrimista americana, apoiada por Barak Obama, disputou uma prova (e foi derrotada) usando o véu islâmico. Este nosso país é um show de tolerância racial, de gênero e de religião. Nisso somos medalha de ouro. Ao menos na Olimpíada. No dia a dia, convenhamos, não é bem assim.

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Esgrimista americana com o véu islâmico.

A Rio 2016 confirma a tese de que ninguém sabe fazer uma festa popular como nós. Até os ventos e as marés ajudaram a limpar a raia olímpica de vela na Baía da Guanabara. Deus é mesmo brasileiro? Enquanto isso, abafados pelas grandes competições, discutimos em Brasília a cassação de Eduardo Cunha e o impeachment de Dilma Rousseff. Nada que não possa esperar duas ou três semanas.

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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