Faltam 3 dias para o início do julgamento de Dilma. Ela quer ir ao Senado, enfrentar seus adversários, olhos nos olhos. Vai registrar o encontro fatal com câmeras de cinema. Dilma pretende entrar para a história do Brasil.

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Temer e Dilma, aliança fracassada. Ironia da história.

 

                                   Uma das minhas boas fontes em Brasília, um cara ligado por tabela ao governo petista, apesar de não ser ele mesmo do PT, me garantiu que Dilma Rousseff decidiu cair de pé. Vai ao julgamento de seu mandato no Senado, encarando seus agressores. Com tal atitude, renuncia à ideia de renunciar. E comete mais um erro – ao menos na minha modesta opinião. A minha fonte, o jornalista aposentado Pinheiro do Vale, que já assessorou ministros e parlamentares, é um observador atento das tramas palacianas e congressuais. Ele me mandou um longo email explicando o motivo da resistência extremada da chefe do Estado brasileiro, a primeira mulher a ocupar o posto. Pinheiro costuma contribuir voluntariamente para este site de opinião e tem enorme taxa de acertos nas análises que faz.

                                   Sendo assim, acompanhem o artigo do jornalista, sob o título de “O último ato: Dilma sem medo”:

“A presidente afastada Dilma Rousseff decidiu protagonizar o último ato do momento histórico que vive: comparer à sessão final do Senado, que decidirá sobre o impeachment (29 de agosto).
Dilma vai ao Congresso para fazer o registro histórico de seu papel na vida do país, aconteça o que acontecer.
No plenário, vai enfrentar as raposas felpudas, os chacais sanguinários da política, os adversários leais e os pusilânimes. Todos estarão à sua frente. Ela estará olhando para a História e se colocando como a imagem da “Dilma Guerreira do Povo Brasileiro”, bordão de campanha e que agora se cola à sua biografia. ‘Dilma sem medo’ é o título de um filme.

A decisão de ir ao plenário firmou-se por sugestão do marqueteiro João Santana, que está por trás do documentário sobre o impeachment, que produtora dele vem rodando desde antes do golpe chegar ao ponto em que chegou. Percebendo que poderia acontecer o pior, há meses, os cinegrafistas e produtores já começaram a captar imagens e sons, fazendo um registro minucioso dos acontecimentos em todos os palcos, nos palácios e nas ruas.
Nos últimos dias, essas equipes têm trabalhado intensamente: no plenário do Senado, a produção colhe assinaturas de anuência de imagem entre os assessores parlamentares que frequentam aquele recinto. Não querem problemas com a Justiça sobre eventuais ações tentando obstar a exibição da obra.

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O Congresso Nacional, cenário da batalha política.

Mesmo preso, Santana criou a obra derradeira. Dilma vai olhar seus algozes, olho no olho. Vai chamar os traidores às falas, vai ameaçar seus adversários com o facão da História.

Para Dilma, não vai ser aquele passeio diante das câmeras da TV Senado, em que parlamentares interpretam suas pantomimas diante de depoentes intimidados, muitas vezes humilhando nos interrogatórios, aquele festival de platitudes para se mostrar nas telas.
Ninguém ficará impune. Dilma vai com tudo. Esse documentário correrá o mundo. Será uma obra de grande competência técnica e artística. Terá a força para vencer festivais importantes, como Cannes, Veneza etc. Talvez um Oscar.

Cada um terá de pensar muitas vezes antes de abrir a boca. Podem preferir o mutismo. Ou mesmo a ausência. Neste caso, pode-se alterar o placar? É uma última esperança de criar um constrangimento. Os apressados que se cuidem. Naquele plenário há pessoas com biografias a zelar, como ex-governadores de estados importantes, acadêmicos de prestígio, políticos com futuro. As imagens e os sons ao vivo e a cores são indeléveis.

Não há como manipular um plano em sequência. Dilma está preparada para a grande cena. Sua carta aos senadores é um texto para a História, disseram alguns analistas. Isto deve ser lido como um roteiro e um script para os acontecimentos.

Foi para dar esse recado ao mundo e à História que Dilma incluiu no texto as referências às prisões e torturas, aparentemente menções descabidas num documento dessa natureza. João Santana, do fundo de sua cela, enquanto se curvava a carcereiros e interrogadores, criava o movimento mais brilhante de sua carreira de marqueteiro político”.

                                   O texto de Pinheiro do Vale me sugere a seguinte pergunta: será o projeto do filme a obra-prima do marqueteiro político do PT? Ou a derradeira tentativa de sobreviver de Dilma, a Luíza da luta armada contra a ditadura? Quem viver, verá.

 

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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2 respostas para Faltam 3 dias para o início do julgamento de Dilma. Ela quer ir ao Senado, enfrentar seus adversários, olhos nos olhos. Vai registrar o encontro fatal com câmeras de cinema. Dilma pretende entrar para a história do Brasil.

  1. José Antônio Severo disse:

    Amorim: Este teu colaborador está mesmo senil. Deviam proibir as pessoas de certa idade em diante escreverem para o público. A liberdade de imprensa deveria ter limites… de idade.

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