
Cunha e Renan, ambos acusados na Lava-Jato. Foto Agência Brasil.
Nem os mais otimistas acreditavam que Eduardo Cunha pudesse sofrer uma derrota tão acachapante. O deputado foi abandoado até por seus apoiadores mais próximos. Ficou quase sozinho no plenário da Câmara, ouvindo discursos que o caracterizavam como um bandido da pior espécie. E ainda teve de aturar a narrativa do golpe contra Dilma, na qual é apontado como mentor. Um desastre completo. Juntamente com Cunha, afunda o setor ultraconservador na Câmara, que garantiu inúmeras vitorias ao parlamentar carioca – e que ele liderou.
Abre-se o espaço político para os partidos de centro, como o PSDB de Aécio Neves, que anseiam por se afastar do fundamentalismo evangélico e da ultradireita. Cunha era o ícone da direita radical e militante. É dono de uma empresa chamada “Jesus.com”, ligada a segmentos religiosos. Com a votação na Câmara (esmagadores 450 a 10), mais do que o mandato de Cunha, revogou-se a carta branca dos amigos dele, que faziam gato e sapato na pauta da Câmara. Agora o “baixo clero” oportunista vai se realinhar com o governo Temer (a maior parte) e com o bloco que une PSDB, PPS e DEM. Aliás, os tucanos vão tentar uma proeza, com vistas a 2018: afastar-se dos radicais e ficar indiferente a Michel Temer. O tucanato prevê o fracasso da política econômica no curto prazo. E sabe que mexer nos direitos trabalhistas vai laçar centenas de milhares de pessoas às ruas.
O projeto conservador não se encerra com o impeachment de Dilma e o “sacrifício” de Cunha. Falta prender Lula e cassar o registro eleitoral do PT. Note-se: a decisão da Câmara cria um dilema para o juiz Sérgio Moro. Ele vai mandar prender Eduardo Cunha, forçando a delação premiada que o Ministério Público pretende conseguir? Ou a Lava-Jato só serve para o pessoal ligado ao PT? Na noite da cassação, Cunha deu entrevista coletiva dizendo que vai escrever um livro de memórias e revelar os podres do Congresso e do governo.
Mas, se quiser se livrar da cadeia, livro de memórias é pouco. Não tem força jurídica. Vai ter que dedurar seus antigos parceiros no crime.
Sobre Carlos Amorim
Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão.
Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano.
Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc).
Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes.
Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005).
A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações.
Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada.
Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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