
Eduardo Cunha, ao ser cassado. Imagem TV Câmara.
No fim da manhã desta quarta-feira (19 out), agentes da Polícia Federal foram à casa de Eduardo Cunha, uma mansão no Condomínio Novo Leblon, na Barra da Tijuca, endereço nobre do Rio de Janeiro. Levavam a ordem de prisão assinada pelo juiz Sérgio Moro, o xerife da Lava-Jato. Cunha não estava. Os federais não revelaram à mulher do deputado cassado qual o motivo da visita. O marido estava em Brasília. Os policiais falaram ao telefone com Cunha e ficaram sabendo o endereço em que se encontrava na capital federal. Uma equipe da PF de Brasília foi até lá e prendeu Eduardo Cunha. Ele foi imediatamente levado ao aeroporto e transferido para Curitiba em um jato oficial. Chegou à carceragem de Moro por volta das quatro da tarde.
Quem acompanha os desdobramentos da Lava-Jato já sabia: Moro não perderia a oportunidade de prender o deputado cassado. Televisão o dia inteiro, primeira página dos jornais, tumulto na Web. Repercussão internacional. Moro conhecia o alcance midiático dessa prisão, até porque, após ser cassado, Cunha virou o ícone da devassa. Um peixe grande na rede. Após receber o processo de Cunha, baixado do STF para a 14ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro precisou de 10 dias para mandar prendê-lo. A Câmara dos Deputados levou 10 meses para cassar o mandato do parlamentar. Em seu despacho, o juiz curitibano cumpriu exatamente o que diz a lei: prisão preventiva é para quem atrapalha o processo, ameaça testemunhas, representa insegurança para a ordem pública e pode fugir.

Cunha levado a Curitiba pela Polícia Federal. Foto DPF/DF.
Cunha reunia todas essas “qualidades”. Mesmo tendo sido cassado no dia 12 de setembro, mantinha agenda em Brasília, como se nada tivesse acontecido. Pressionava seus parceiros do PMDB (seria melhor dizer cúmplices?), ameaçava o Planalto e os ministro do governo Temer, especialmente Moreira Franco, seu companheiro do PMDB fluminense. Além do mais, ainda ocupava um apartamento funcional da Câmara, como se não tivesse perdido o mandato. Coisas muito estranhas. A elas se somam o fato, revelado por Sérgio Moro: Eduardo Cunha tem dupla nacionalidade e passaporte italiano. O juiz também informou que o réu talvez tenha outras contas secretas no exterior, além daquelas já descobertas na Suíça. E sobre ameaças à ordem pública? Moro pode argumentar que Eduardo Cunha esteve a ponto de ser linchado no aeroporto Santos Dumont (ver post anterior). Tribunal superior nenhum vai revogar essa prisão.
Brasília tremeu com a prisão de Cunha. Uma sessão da Câmara dos Deputados foi interrompida. Temer antecipou em 12 horas a volta ao país: estava no Japão. Teme-se uma delação premiada que pode derrubar metade do ministério e comprometer um terço dos parlamentares aliados do governo. O ministério público e os agentes federais não estão muito animados: querem 10 anos de prisão para Cunha, em regime fechado. Não querem negociar. A mulher e uma das filhas de Cunha não estão no foco dos promotores: são peças secundárias. Eles querem crucificar aquele ex-deputado arrogante.
A prisão de Cunha dá sinais de que a Lava-Jato virou uma entidade independente. Antes perseguia o PT. Agora pode perseguir qualquer um. O meio político começa a reagir: o Congresso Nacional, constituído por larápios e oportunistas, como diz a justiça e a opinião pública, está se mobilizando para aprovar uma lei contra o “abuso de autoridade”. Ou seja: contra o Ministério Público, que na Constituição de 1988 ganhou autoridade para realizar investigações independentes. O próprio Ministério Público propôs um projeto de lei com “10 medidas contra a corrupção”. Obteve 2 milhões de assinaturas populares. Mas o Congresso ainda discute, lentamente, a proposta do MPF. Sabemos que nossos parlamentares legislam em causa própria. Não vão aprovar leis que caiam sobre as cabeças deles.