Donald John Trump foi eleito. Alguma surpresa? O republicano rebelde traduziu o sentimento da imensa classe média branca americana. É bilionário, cercado de mulheres, carros de luxo e dono de hotéis e cassinos. O sonho americano.

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Trump, descabelado. O ícone da classe média branca dos EUA.

 

                                   Quem se espantou com a vitória esmagadora de Donald Trump nas eleições americanos devia dar uma olhada mais de perto na história da sociedade humana instalada nos Estados Unidos. Descoberta por Cristóvão Colombo, em 1492, a América se tornou colônia britânica tempos depois. Mas era frequentemente invadida por franceses e holandeses, como aconteceu também no Brasil de então. No século 18, os colonos americanos se rebelaram contra os impostos e a repressão praticada pela Coroa Inglesa, como também ocorreu em terras brasilis, contra a metrópole portuguesa.

                                   Em 1776, os americanos proclamaram uma Carta de Independência, em meio a combates sangrentos contra a matriz inglesa. Foi um ato revolucionário: afirmava que todos os homens nasciam iguais sob Deus e tinham direito a conquistar a felicidade. Foi tão importante para o contexto da época, que exerceu enorme influência sobre a grande revolução francesa de 1789, que culminou com a derrubada da monarquia. No entanto, George Washington, comandante da revolução americana, era um senhor de escravos. Tinha 150 negros escravizados cuidando dos assuntos domésticos na casa dele, além de centenas de outros nas plantações. A igualdade, sob Deus, não tinha nada a ver com africanos cativos. Naqueles tempos, ainda se discutia se os negros tinham alma.

                                   Um século mais tarde, após a independência, a contradição entre felicidade e escravidão levou à pior guerra em que os Estados Unidos estiveram envolvidos, causando mais baixas fatais (cerca de 750 mil) do que em todas as outras em que armas norte-americanas foram levadas ao campo de batalhas. Na verdade, a Guerra da Sesseção não foi para libertar escravos. Foi um confronto para impor o norte industrializado contra o sul feudal e escravocrata. Era a revolução burguesa em terras do Tio Sam. E foi vencida pelos Estados Unidos da América, à custa do maior morticínio de que se tem notícia nas plagas descobertas por Colombo.

                                   Apesar de tudo isso, os princípios da Carta de Independência de 1776 não conseguiram se impor no grande país do norte das Américas. De certa forma, a grande maioria branca continuou a suplantar as minorias, mesmo em um país moderno, que os imigrantes ajudaram a construir. Até 1963, negros eram linchados e enforcados em praça pública, diante das famílias brancas, que levavam as crianças para assistir. Na quadra dramática dos anos 1960, mataram a tiros John Kennedy, Robert Kennedy, Martim Luther King, Malcon X e mais um monte de gente. Dos 45 presidentes eleitos até agora, incluindo Trump, 10 sofreram atentados a bala – e 4 foram assassinados, incluindo Lincoln, aquele da libertação dos escravos, e John Kennedy, que iniciou a guerra do Vietnã.

                                   Portanto, achar que a eleição de Trump é uma surpresa é pura bobagem. A grande classe média branca americana, conservadora, protestante e racista, é quem detém o poder. A eleição de Barak Obama, o primeiro negro a presidir os Estados Unidos, pode ser considerada uma exceção que justifica a regra. Hillary Clinton, que seria a primeira mulher na Casa Branca, pode esquece. A imensa onda conservadora que varre o planeta acaba de se instalar no número 1.600 da Avenida Pensilvânia, em Washington. A Case Branca.          

 

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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