
Rodrigo Maia adia a votação. Imagem da TV Câmara.
O cenário na Câmara dos Deputados é de envergonhar qualquer país civilizado. Diante das pressões para aprovar uma “anistia ampla, geral e irrestrita” de todos os crimes eleitorais cometidos nos últimos 20 anos, que envolvem as maiores baixarias e corrupção deslavada, o presidente da casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), decidiu adiar a votação do projeto de lei 5864, mais conhecido como “As 10 medidas de combate à corrupção”. Maia, acusado de patrocinar reuniões clandestinas de líderes da base governamental, diante da ampla cobertura da mídia, recuou mais uma vez. E o recuo beneficia os corruptos, aqueles que usaram do poder econômico para vencer eleições. Ou seja: a maioria do Congresso.
Primeiro, as 10 medidas viraram 17. Incluindo punições ao eleitor (a parte fraca) e ao Ministério Público. Depois, ficaram 12 medidas. Mas o toma-lá-dá-cá não foi suficiente para tranquilizar os nobres deputados diante das ameaças da delação premiada da Odebrecht, que atinge quase todos eles. Queriam garantias para frear a Lava-Jato, que desaba sobre as suas cabeças como uma espada afiada. No entanto, aprovar a tal anistia ampla aos crimes eleitorais, diante da TV ao vivo, pegava muito mal. Teria implicações eleitorais para a próxima legislatura. Os bravos parlamentares temem o julgamento das urnas. Já haviam decidido que a votação não seria nominal, como manda o regulamento, para poupar deputados de uma eventual exposição ao populacho. Não foi o suficiente. Querem ainda mais.

O deputado Lorenzoni., relator das “10 medidas”. Imagem do portal DSEM.ORG.
O adiamento pode significar o seguinte: se não votarem, entra o recesso parlamentar, e fica tudo como está. O caixa 2 de campanhas deixa de ser criminalizado, com penas de prisão. O esforço do Ministério Público ao propor as “10 medidas” se perde. Perdem-se também 2,4 milhões de assinaturas populares que referendavam o projeto de lei 5864. De novo, prevalece a impunidade. E o eleitor não pode fazer um recall dos seus escolhidos.
Não tenho muitas simpatias pelo juiz Sérgio Moro, o xerife da Lava-Jato. O magistrado abusa de seus poderes e tem atuação seletiva, no meu modesto entendimento. Mas, nesta quinta-feira (24 nov), em frase reproduzida pela edição online da Folha de S. Paulo, disse algo que eu diria: a anistia aos crimes políticos é uma ameaça à democracia, não apenas à Lava-Jato.
Sobre Carlos Amorim
Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão.
Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano.
Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc).
Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes.
Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005).
A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações.
Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada.
Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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