2016 termina tão ruim quanto começou: crise política, delações, prisões e ameaças de prisão, bandalheira nos altos escalões da República, juros bancários absurdos. Seis ministros do novo governo pediram demissão. E não há sinais de recuperação da economia. Mas sobram tentativas de onerar apenas o trabalhador pela crise.

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Renan, Temer e Rodrigo Maia: a trina vitoriosa na luta política. Foto Agência Brasil.

                                    O ano de 2016 entra para a história como um dos piores do período democrático. O ambiente político, totalmente contaminado pela corrupção, deu ao país vários exemplos de baixaria e acadelamento frente à onda conservadora que pretende restringir direitos públicos e – ao mesmo tempo – manter privilégios dos apaniguados. Assistimos a vergonhosas sessões do Parlamento. Vimos Renan Calheiros, presidente do Senado, desobedecer a uma ordem da Suprema Corte. Em seguida, vimos a mesma Suprema Corte aceitar a humilhação e manter o senador no poder. Por apenas mais duas semanas, de modo a não desestabilizar o governo de Michel Temer e não comprometer a votação de medidas impopulares chamadas de “ajuste fiscal”.

                                   Atônitos, os brasileiros viram pela TV a aprovação de uma emenda constitucional que congela o investimento público por 20 anos. Quando se sabe que em tempos de crise econômica o investimento estatal é fundamental para retomar o crescimento. Também vimos os nobres parlamentares apontando o dedo sujo para o aposentado, como se fosse ele o motivo da crise – e não a corrupção e o desgoverno, a gestão equivocada (ou fraudulenta) da coisa pública. O desgoverno começa na “privataria” de FHC, passa por Lula e Dilma e se completa de forma dramática com Temer. O Parlamento e o próprio Planalto tentaram várias vezes deter a Lava-Jato. Só para escapar das punições mais do que prováveis. Na verdade, atrapalhar as investigações federais foi uma espécie de promessa do grupo que tomou o poder pós-Dilma.

                                   Tudo isso está bem descrito pela mídia, especialmente pelos veículos alternativos de comunicação, como este site. E, se não bastasse, temos a delação premiada da maior empreiteira do país, a Odebrecht. Envolve a confissão de crimes graves e acusa cerca de 300 pessoas de destaque no país, cerca de 250 políticos e mais uns 50 funcionários de alto escalão. A construtora acaba de confessar que pagou bilhões de dólares em subornos, comprometendo-se a devolver o dinheiro na maior multa de que se tem notícia no mundo capitalista. É pouco, ou você quer mais? Ficamos sabendo, nesse fatídico 2016, que o país era governado por empreiteiros ocultos atrás do poder econômico, que comprava eleições e ditava os rumos do país. E o interesse público que se danasse.

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Partidos de esquerda, movimentos sociais, índios e outros manifestantes. Nada impediu a votação na Câmara. Foto Agência Brasil.

                                   Apesar das bravatas de Michel Temer, não há sinais no horizonte de que vá haver uma recuperação econômica significativa antes de 2020. O Banco Central acaba de informar que o PIB brasileiro, a soma de toda a produção de riquezas, vai afundar ao menos 3,4% este ano. Pode ser ainda mais. O Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse ontem (21 dez) que não haverá nenhum crescimento até o fim do terceiro trimestre de 2017. E que, milagrosamente, o quarto trimestre cresceria 2%. Vamos fazer uma conta simples: para que o PIB possa crescer 0,6% até o final de 2017, o país teria que apresentar uma reação econômica de 4% em apenas 12 meses. É não só improvável, como inacreditável. Seria maior do que o crescimento da economia americana, a primeira do mundo.

                                   Houve queda na inflação, que pode fechar o “ano maldito” em 6,58%, quase no topo da meta. Mas a inflação já vinha caindo sob Dilma. É difícil dizer que foi obra de Temer, porque ele está sentado no Planalto há apenas seis meses, período em que perdeu um ministro por mês, envolvidos com escândalos e denúncias. A taxa Selic, saudada como outro sinal de recuperação, decresceu apenas uns pontinhos além da vírgula, enquanto os bancos cobram até 470% de juros reais ao ano. E sem serem molestados por Henrique Meirelles, que é banqueiro. Além do mais, considerando que 2017 é outro ano perdido, chegamos a 2018, quando há eleições presidenciais. Vai haver uma paralisia política, porque não se sabe qual rumo o país vai tomar. Os investidores vão pisar no freio, até uma definição do cenário.

                                   E o presidente eleito terá que reformar o país. Se for de oposição, vai rever as medidas impopulares de Temer, aproveitando a maioria parlamentar resultante da votação. Se for da situação pós-PT, vai aprofundar os danos ao trabalhador e ao investimento público. Quem colocaria bilhões de dólares em um Brasil tão instável? O ano de 2019 será dedicado a oferecer garantias políticas e econômicas, dando ensejo à recuperação em 2020. Mesmo assim, discreta. O resto é bobagem.

                                   E ainda temos que considerar uma variável: como o setor conservador tornou-se hegemônico no Parlamento, pode aprovar qualquer coisa. As oposições viraram uma minoria barulhenta, mas ineficaz. Isso leva a um estreitamento da interlocução política. Se não adianta se bater na Câmara e no Senado, com poucos resultados no judiciário, a saída para as oposições pode ser o recurso à militância e às ruas. Algumas agências de avaliação de risco americanas informam aos seus investidores que pode haver “conflagração social” no Brasil, em curto prazo. Nada assusta mais os investidores nacionais e internacionais. Enquanto as coisas acontecem nos tapetes felpudos do Parlamento, tudo bem. Mas quando chegam às ruas, é um Deus nos acuda.

 

                                   A equipe deste site aproveita para desejar boas festas aos seus leitores. São aproximadamente 80 mil no ano. Quase 300 mil acumulados. Voltamos no início do ano. Boas festas a todos!  

                                                 

 

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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Uma resposta para 2016 termina tão ruim quanto começou: crise política, delações, prisões e ameaças de prisão, bandalheira nos altos escalões da República, juros bancários absurdos. Seis ministros do novo governo pediram demissão. E não há sinais de recuperação da economia. Mas sobram tentativas de onerar apenas o trabalhador pela crise.

  1. DAGC DAVID disse:

    O ano de 2016 foi maravilhoso porque foi uma grande derrota para a Esquerda e a Extrema Esquerda.
    Uma derrota gigantesca para a Esquerda e que vai continuar perdendo espaço cada vez mais…

    e ao contrario do que a materia revela, existe sim, um sinal positivo da retomada da economia, o Mercado vai se recuperar, o IBGE ja divulga deflação desde novembro em alguns setores e isso só significa numa coisa. CORREÇÃO de MERCADO.

    Logicamente que o Governo Temer esta afim de surfar na retomada, mas essa retomada pertence ao MERCADO e somente a ele.
    O governo se intervir, pode provocar mais recessões (correções).

    E PIB? voce deveria saber que uma das variaveis do PIB, é gastos do Governo. Hahahaha…
    Outra, reformas que prejudicam o trabalhador? hahahaha.

    O que mais prejudica o trabalhador sao os proprios gastos do governo, que fazem esse mesmo trabalhador ficar até maio trabalhando só para sustentar essa maquina estatal gigantesca.

    E nao adianta querer falar que o governo vai fazer aquilo, o governo nao vai fazer isso. O governo sempre foi o problema, nunca a solução.

    O governo só é a solução quando se mantem distante do Mercado e no máximo, fiscalizando e punindo aqueles que fazem coisas erradas, como a coerção.

    Esse seu texto vai para o ceticismopolitico.
    ‘Se for da situação pós-PT, vai aprofundar os danos ao trabalhador e ao investimento público.’

    Hahahahahahahaha… que piadista você é Carlos Amorim.

    Voce anda acessando que sites? o DCM?

    Curtir

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