Governos perdem controle sobre presídios. Facções mandam nas cadeias e fazem ameaças às Forças Armadas: “Se mexerem com a gente, vão pagar”.

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Presos amotinados ameaçam reféns. Autoridades não impedem matança.

                                    Pouco mais de mil detentos continuam rebelados em Natal (RN). Estão divididos em dois grupos e se declaram aliados do PCC e do Comando Vermelho (CV). Hastearam bandeiras nos telhados e se ameaçam mutuamente. Estão armados com facas e algumas armas de fogo. Não há mais grades nas celas, nem portas separando as galerias. É um salve-se quem puder. Além do mais, com celulares clandestinos, já ordenam duas dezenas de ataques nas ruas da capital do Rio Grande do Norte. Queimaram ônibus e carros oficiais, disparam contra prédios públicos. Pior: filmaram os atentados e os exibiram nas redes sociais, em comemoração espalhafatosa.

                                   A população, acuada, se tranca dentro de casa. Falta transporte público, porque as empresas retiram os veículos para evitar depredação. Homens do Exército patrulham as ruas de Natal, inclusive com blindados. E uma das facções criminosas, envolvida com o narcotráfico, fez nas mesmas redes sociais uma ameaça aos militares: “Não mexam com a gente, senão vão pagar”. O governo do estado, que mal consegue entrar no maior presídio sob a sua responsabilidade, pretende construir uma trincheira com contêineres, para separar os grupos rivais. E não explicou como vai fazer para pacificar cada lado do conflito. A transferência de alguns líderes de facções criminosas para estabelecimentos correcionais federais, aparentemente, não teve efeito prático. Trata-se de uma confissão de impotência das autoridades.

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Transporte público deixa população sem socorro.

                                   Em Manaus, a tensão no sistema penal continua. Lá também não foram encontradas as soluções mais óbvias. Em Boa Vista (RR), continuam as lutas internas entre presidiários. Houve fugas e violência no Paraná e no centro oeste do país. Nem sabemos mais, com segurança, quantos foram os mortos neste janeiro sangrento. O último número que ouvi foi de 134. Procuram-se corpos e pedaços de corpos nas valas sanitárias dos presídios, entre escombros da guerra das facções. Mas podemos afirmar que ultrapassamos com folga o mundialmente famoso “Massacre do Carandiru”. E também podemos afirmar que o sistema penal faliu de vez. Imagens da barbárie percorrem o mundo.

                                   O Ministro da Justiça, Alexandre de Mores, um dos representantes tucanos no governo Temer, já disse que esse negócio de facções criminosas é bobagem. Ingênuo, acredita que o melhor é misturar todos os presos, sem considerar as chamadas “filiações partidárias” entre os detentos. Fazendo isso, iniciará um levante de mais de 600 mil prisioneiros em todo o país. Será que ele não sabe que se associar a uma facção significa sobreviver na cadeia? Será que não sabe? Ele é advogado e foi chefe da polícia paulista, berço do PCC. Não terá recebido informações em um estado que concentra a maior massa carcerária brasileira (170 mil)? Nos últimos 25 anos, São Paulo foi o estado que mais investiu em cadeias, algumas das quais são exemplos para todo o país. Mesmo assim, quem manda, em última instância, é o PCC.

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Presos rebelados decidem destino dos rivais.

                                   Um telefonema da “Sintonia Geral”, o comando do PCC, via celular clandestino, vira qualquer cadeia paulista. Já vimos isso em 2003 e 2006, quando 40 mil detentos atenderam ao “salve geral” da organização. E houve batalhas campais nas ruas de São Paulo, com centenas de mortos. Subestimar o poder do narcotráfico é não só uma ingenuidade, mas uma burrice.

Se a guerra das facções transbordar para as ruas, todo o país será refém da violência.         

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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