
Fernandinho Beira-Mar.
As fronteiras brasileiras com o Paraguai, a Bolívia e a Colômbia estão em pé de guerra. As duas maiores organizações criminosas do país, o CV e o PCC, disputam o controle dos negócios de importação de cocaína, crack e maconha, um empreendimento mais do que milionário. A primazia dessas relações internacionais sempre foi do Comando Vermelho, lideradas por Fernandinho Beira-Mar, que já foi chamado de o Pablo Escobar do Brasil.
FBM estabeleceu sociedades com traficantes das zonas fronteiriças, entre os quais o mais conhecido da crônica policial brasileira, João Arcanjo Ribeiro, o Comendador, ex-policial civil, que vendia maconha paraguaia por atacado para o CV. Por essa rota, entre o Paraguai e o estado do Mato Grosso, entraram toneladas de drogas e armamentos. O negócio era tão importante, que Fernandinho se mudou para a fronteira, abandonando o Rio de Janeiro. Era fugitivo da justiça em Minas Gerais, onde foi apanhado com quatro quilos de cocaína pura. Escapou da prisão em um escândalo local de corrupção. Foi aí que se mudou para o feudo do Comendador. Tudo ia bem, até que Fernandinho e João Arcanjo se desentenderam em relação ao preço da droga clandestina que entrava no Brasil.
O desacerto comercial ocorreu em abril do ano 2000. Beira-Mar escapou de um atentado patrocinado pelo sócio e se refugiou na Colômbia. Entrou em contado com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, unindo-se ao Bloco 16 das FARCs, chefiado pelo Comandante Negro Acácio. FBM se passava por criador de gado, comprou uma fazenda justamente na área controlada pela última guerrilha comunista das Américas. O Bloco 16 das FARCs ficava em uma região montanhosa, coberta de lavouras de coca. Um ano depois, em 21 de abril de 2001, o Exército colombiano atacou o acampamento do Negro Acácio. Fernandinho participou do combate. Levou um tiro de fuzil 7.62mm que entrou pelo pulso esquerdo e saiu pelo ombro. Só não morreu porque o anjo dele estava de plantão naquele dia.
Quando FBM foi preso, o secretário de estado norte-americano, no governo George W. Bush, declarou à mídia: “Quero ver as FARCs dizerem agora que não estão associadas ao narcotráfico”. Foi essa prisão do traficante brasileiro que criou a alcunha de “narcoguerrilha” em relação aos rebeldes colombianos. Fernandinho era acusado de tráfico nos EUA e considerado fugitivo da justiça americana. Mas o governo Bush não quis tentar uma extradição. Conto tudo isso só para demonstrar a importância que o CV teve nas relações internacionais do tráfico de drogas. Atuava nas rotas latino-americanas e na África. Agora o quadro mudou.
Ano passado, as duas organizações criminosas brasileiras, sócias históricas, se envolveram em uma operação conjunta para aniquilar o “Rei da Fronteira”, um traficante chamado Jorge Rafaat, que estava inflacionando os preços no comércio de drogas. CV e PCC se uniram para pôr abaixo o monopólio de Rafaat. Mais de 100 mercenários foram contratados para realizar a tarefa. O “Rei da Fronteira”, que estava em um carro blindado e contava com 12 seguranças, foi emboscado na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, na fronteira com a brasileira Ponta Porã. Uma metralhadora ponto 50 destroçou o traficante. Após o evento dramático, CV e PCC não se acertaram a respeito de qual das facções assumiria o comando do tráfico na fronteira.
Daí resultou o rompimento de uma associação criminosa que durava desde o ano de 1993, quando o PCC foi criado em São Paulo, jurando lealdade ao CV carioca. O destrato entre as facções resultou na luta mortal entre detentos na região norte do país, especialmente no Amazonas, que faz fronteira terrestre com os traficantes e os guerrilheiros colombianos. E por onde passa a famosa “Rota do Solimões”, uma via fluvial para o tráfico em grande escala.
A guerra das facções ameaça transbordar para as ruas. Felizmente, ainda não aconteceu. Mas se vier a acontecer, será um Deus nos acuda para o cidadão comum. E não temos governantes para entender a gravidade da situação, verdadeira guerra civil não declarada, incapazes que são de perceber a gravidade do problema.
Que sejamos poupados de mais essa tragédia!