Mulher de Lula tem morte cerebral. A história dela deve ser esquecida. Sob pena de incomodar a onda conservadora que assola o país.

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Marisa Letícia Lula da Silva: uma biografia a ser esquecida.

 

Marisa Letícia Lula da Silva foi declarada com morte cerebral às dez e meia da manhã de hoje (2 fev). Estava internada há 10 dias no hospital Sírio Libanês, centro de São Paulo, após sofrer um AVC hemorrágico. Exames médicos atestaram a interrupção da atividade cerebral da mulher de Lula. Os aparelhos que a mantinham viva já foram desligados. E a família autorizou a doação de órgãos para transplantes. Aos 66 anos, 43 dos quais com Lula, a morte de Marisa será declarada oficial após a retirada dos órgãos.

Filha de lavradores pobres italianos, que imigraram para o Brasil no final dos anos 1940, em busca de melhores oportunidades, Marisa Letícia nasceu em São Bernardo do Campo (SP). Ainda menina, com uns 10 anos de idade, trabalhou como babá para a família do pintor Cândido Portinari. Com 14 anos, era operária em uma pequena fábrica de chocolate. Jovem ainda, casou-se com um motorista de táxi e ficou viúva quando estava grávida de quatro meses de seu primeiro filho. O marido, Marcos Cláudio da Silva, foi assassinado.

Marisa e Lula se conheceram no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, em 1973. Foi amor à primeira vista. O líder metalúrgico ficou encantado com aquela Marisa de 23 anos, loura e de traços europeus. A união deles durou até a manhã desta quinta-feira. Tiveram três filhos – e Lula reconheceu o menino que ela teve com o motorista assassinado.

A vida do casal, sob o regime militar, passou por fortes tribulações: greves, prisões de Lula, atividade clandestina. Marisa era avessa à política, que para ela significava apenas uma coisa: a segurança da família. O Partido dos Trabalhadores (PT) foi criado em 1980. E neste mesmo ano ela chegou a liderar uma marcha de mulheres operárias em apoio à nova legenda. Participou de um curso de introdução à política organizado pela Pastoral Operária da Igreja Católica. Ela e o marido sempre foram cristãos. O resto da história a gente já conhece: Lula deputado, candidato e depois presidente da República duas vezes.

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Lula e Marisa nos tempos da barra pesada. Imagem arquivo pessoal.

Os últimos 12 anos de casamento foram tormentosos. Mensalão, acusações de todo tipo, denúncias nas primeiras páginas de todo o país. Mesmo assim, o casal jamais foi acusado e Lula se reelegeu e ainda fez a sua sucessora, Dilma Rousseff. De 2015 para cá, as acusações atingiram duramente o casal. O sítio de Atibaia, o tríplex do Guarujá e muito mais. O bombardeio da mídia foi implacável. Sempre no mesmo esquema: denuncia-se, mas não se mostram as provas. O caso do Guarujá foi emblemático: o relatório final da Polícia Federal sequer citou Lula e Marisa, acusando outras pessoas de lavagem de dinheiro – nada a ver com a dupla ou o PT. E a tal conclusão da PF virou notinha de pé de página. Neste período, o Ministério Público Federal afirmou que Lula era o “chefe do crime organizado no país”. Mas não provou.

Não se pode dizer que a pressão midiática matou Marisa Letícia, cujo aneurisma cerebral havia sido diagnosticado há 10 anos. Mas, com certeza, deve ser difícil viver sob paus e pedras. A história dessa mulher corajosa será distorcida pelo interesse político e empresarial de destruir Lula e o PT. Ambos são temidos em 2018. De toda forma, a trajetória desta Marisa será deformada e esquecida. Como tantas outras lutadoras ao longo da história.       

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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  1. ANA GRAZIELA AGUIAR DE OLIVEIRA disse:

    Boa tarde Carlos, meu nome é Ana Graziela Aguiar e sou jornalista da TV Brasil. Gostaria de saber um meio de entrar em contato com você.

    Obrigada,

    Ana

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