
Soldado do Exército faz papel de polícia. Foto Agência Brasil.
O general-de-brigada Mauro Sinott está à frente das forças de segurança que tentam deter a onda de violência no Espírito Santo. Em apenas quatro dias, o saldo do conflito provocado pela greve da polícia, que agora soma os agentes civis, é de mais de 90 mortos. Um massacre inacreditável, com saques e incêndios. Praticamente toda a economia capixaba está inerte: comércio, bancos e repartições públicas fechados. Começa a faltar comida e água potável, porque os supermercados não abrem. As famílias são reféns de bandos armados. É ou não é um estado de guerra?
Em bom português, o fato de o general ter assumido o comando de toda a força pública quer dizer que se trata de uma intervenção federal dissimulada. Ou seja: ao invés de decretar a intervenção propriamente dita, que afastaria todos os poderes estabelecidos, o Planalto optou por uma forma disfarçada de ocupação da região metropolitana de Vitória, única área que os minguados 1.200 soldados da Força Nacional e do Exército conseguem cobrir – e mesmo assim só até o dia 16 deste mês. Tal efetivo reduzido (na Olimpíada do Rio foram 23 mil militares) não é capaz de restabelecer a lei e a ordem. Vai morrer mais gente.
O general Sinott, em conversa com jornalistas, disse o seguinte: “Seremos intolerantes com qualquer situação que comprometa a segurança da tropa” (edição online da Folha, às 15h40 de hoje). Isto significa atirar para matar. Curioso: o militar não disse nada sobre a segurança do cidadão, que sequer consegue sair de casa para comprar comida ou ir ao trabalho. Pode faltar água potável, porque os funcionários da empresa pública de abastecimento não conseguem chegar aos locais de trabalho.
Por que Michel Temer não decretou a intervenção no Espírito Santo? Talvez porque o governador licenciado (?), Paulo Hartung, do seu círculo de amizade e filiado a seu partido, o PMDB, não mereça tamanha punição. Só que a punição fica para o público, o cidadão comum. Temer autorizou um aumento da presença dos militares na região, que agora envolve a Marinha e a Aeronáutica. Fuzileiros navais e blindados, helicópteros e coisas que tais. Mas o caos continua refletindo o estado de guerra civil não declarada que vivemos no Patropi.
E se o CV e o PCC decidirem aumentar o conflito para outras regiões do país, como ocorreu nas rebeliões penitenciárias do Norte e Nordeste do país, que resultaram em mais de uma centena de mortos? E se a luta armada das facções criminosas se espalhar para Rio e São Paulo? Aí teríamos um país mergulhado na violência, enquanto os poderosos resolvem as suas querelas em Brasília. Por meio de acordos de bastidores. Temer corre o risco de mergulhar o Brasil em um banho de sangue.
Sobre Carlos Amorim
Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão.
Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano.
Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc).
Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes.
Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005).
A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações.
Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada.
Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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OI espírito da lei que militarizou as polícias seria prevenir contra greves. Militar não faz greve; funcionário civil sim. O movimento dos PMs do Espírito Santo que se esconderam sob a saias de suas mulheres assina o decreto de extinção das polícias militares. Atiraram no galo e acertara a galinha.
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