A “delação do fim do mundo” começa a desmontar o sistema político brasileiro. Até agora já são conhecidos 60 dos 300 nomes de políticos e altos funcionários acusados de corrupção e crimes eleitorais. Foram citados Dilma, Lula, Aécio, Temer e os atuais presidentes dos poderes legislativos. Sem falar dos ministros de Temer. Não vai sobrar ninguém. Enquanto isso, a “recuperação” econômica sinaliza o desastre.  

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Marcelo Odebrecht: ele falar e a terra treme. Imagem portal Veja.

                                    A delação premiada da Odebrecht começa a ser conhecida. O presidente da maior empreiteira do país, Marcelo Odebrecht, em depoimento ao Superior Tribunal Eleitoral (TSE), abriu a caixa preta da manipulação da vontade das urnas. Segundo o empresário, ninguém seria eleito no Brasil sem dinheiro por fora, tanto do chamado caixa 2 de campanhas, quanto da corrupção pura e simples. Perguntado se era o dono do governo, respondeu: “era o otário do governo, o bobo da corte”. Mentira! Quase ninguém seria eleito para a Presidência ou para o Congresso sem a Odebrecht.

                                   No fundo e no raso, o depoimento revelou a total bandalheira instalada no sistema político brasileiro. A vontade das urnas é manipulada pelo poder econômico. Para aparecer diante do eleitorado, em campanhas que têm horror às ruas e ao populacho em geral, é preciso se basear em propaganda bilionária. E de onde vem a grana? De gente como Marcelo Odebrecht. Por que? Para depois cobrar na forma de obras públicas superfaturadas. É assim que a coisa funciona. O “bobo da corte”, na verdade, é o “esperto da corte”. Bajulado por políticos e governantes, que devem seus cargos a gente como ele. Ao se mostrar arrependido, está dando mais um golpe para fugir da cadeia.

                                   A confissão de Marcelo expõe a dramática situação política do país. Ele denunciou todo mundo: Lula, Dilma, Temer, Aécio Neves, Eliseu Padilha, Moreira Franco e mais um monte de gente. Todos supostamente subornados pela empreiteira. Tão inocente empresário! Quem paga bilhões em propinas recebe trilhões em lucros. A Folha online de hoje (2 mar) traz o nome de 58 políticos e funcionários dedurados pelos 77 executivos da empreiteira. Faltam serem conhecidos mais de duas centenas deles. Como o sistema político vai sobreviver a isso? Só de uma forma: um grande acordo entre o governo, o legislativo e o judiciário, o que corresponderia a um novo golpe. Dessa vez, fatal para o país.

                                   Enquanto rola a crise política, sublinhada pela Lava-Jato, o governo, com apoio da grande mídia, comemora a “recuperação” econômica. Então, vejamos:

1.      A inflação está em queda e deve fechar o ano em torno de 4%, abaixo do centro da meta estabelecida pelo Banco Central. Foi alguma medida milagrosa do governo? Não! Foi pelo aprofundamento da recessão. Não   há produção, nem vendedores, nem compradores. Não há crédito nem incentivos ao capital e ao trabalho. Com o desastre econômico, a inflação cai automaticamente.

2.     Com o desastre econômico, que resulta na queda dos preços, a taxa oficial de juros também sofre uma redução automática. Pode fechar o ano em torno de 9%. E ainda será uma das maiores do mundo. Isto não é um bom sinal, porque a banca aplica a realidade de mercado, com taxas de juros que beiram os 500% ao ano. Não há sinais de redução significativa dos juros de mercado: porque a banca, o grande capital, não acredita na dita “recuperação”. Ao contrário, com taxas elevadas atraem investidores estrangeiros. Os bancos são o empreendimento capitalista melhor sucedido no Brasil em crise econômica. E o resto é bobagem!

3.     Outra indicação de “melhora” da economia: o recorde positivo da balança comercial brasileira, que mede a diferença entre importações e exportações. É outro péssimo sinal. As exportações aumentam, porque vendemos produtos brutos para o estrangeiro, como grãos e minérios. Mas as importações caem, porque o empresariado deixa de comparar máquinas no exterior para aumentar a produção. Voltamos ao país exportador de açúcar, café, borracha e bananas do século passado. Agora substituídos por soja, ferro, petróleo e carne. E o governo se orgulha disso.

Resultado: com ajuda da grande mídia, que evita a análise dos fatos econômicos e avulta o caráter reformista do governo Temer, fazemos de conta que está tudo bem. Mas o resultado é queda na produção, desemprego em massa e aumento do conflito social. O PIB de 2016 foi de 4,34% negativo, número cuidadosamente evitado pelo JN. O de 2017 será bem abaixo de zero. Isso quer dizer: a depressão continua, a inflação e os juros oficiais caem, porque se referem apenas ao déficit público, mas o povo pode passar fome. 

 

        

                                                                 

                                     

  

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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