
Marcelo Odebrecht: ele falar e a terra treme. Imagem portal Veja.
A delação premiada da Odebrecht começa a ser conhecida. O presidente da maior empreiteira do país, Marcelo Odebrecht, em depoimento ao Superior Tribunal Eleitoral (TSE), abriu a caixa preta da manipulação da vontade das urnas. Segundo o empresário, ninguém seria eleito no Brasil sem dinheiro por fora, tanto do chamado caixa 2 de campanhas, quanto da corrupção pura e simples. Perguntado se era o dono do governo, respondeu: “era o otário do governo, o bobo da corte”. Mentira! Quase ninguém seria eleito para a Presidência ou para o Congresso sem a Odebrecht.
No fundo e no raso, o depoimento revelou a total bandalheira instalada no sistema político brasileiro. A vontade das urnas é manipulada pelo poder econômico. Para aparecer diante do eleitorado, em campanhas que têm horror às ruas e ao populacho em geral, é preciso se basear em propaganda bilionária. E de onde vem a grana? De gente como Marcelo Odebrecht. Por que? Para depois cobrar na forma de obras públicas superfaturadas. É assim que a coisa funciona. O “bobo da corte”, na verdade, é o “esperto da corte”. Bajulado por políticos e governantes, que devem seus cargos a gente como ele. Ao se mostrar arrependido, está dando mais um golpe para fugir da cadeia.
A confissão de Marcelo expõe a dramática situação política do país. Ele denunciou todo mundo: Lula, Dilma, Temer, Aécio Neves, Eliseu Padilha, Moreira Franco e mais um monte de gente. Todos supostamente subornados pela empreiteira. Tão inocente empresário! Quem paga bilhões em propinas recebe trilhões em lucros. A Folha online de hoje (2 mar) traz o nome de 58 políticos e funcionários dedurados pelos 77 executivos da empreiteira. Faltam serem conhecidos mais de duas centenas deles. Como o sistema político vai sobreviver a isso? Só de uma forma: um grande acordo entre o governo, o legislativo e o judiciário, o que corresponderia a um novo golpe. Dessa vez, fatal para o país.
Enquanto rola a crise política, sublinhada pela Lava-Jato, o governo, com apoio da grande mídia, comemora a “recuperação” econômica. Então, vejamos:
1. A inflação está em queda e deve fechar o ano em torno de 4%, abaixo do centro da meta estabelecida pelo Banco Central. Foi alguma medida milagrosa do governo? Não! Foi pelo aprofundamento da recessão. Não há produção, nem vendedores, nem compradores. Não há crédito nem incentivos ao capital e ao trabalho. Com o desastre econômico, a inflação cai automaticamente.
2. Com o desastre econômico, que resulta na queda dos preços, a taxa oficial de juros também sofre uma redução automática. Pode fechar o ano em torno de 9%. E ainda será uma das maiores do mundo. Isto não é um bom sinal, porque a banca aplica a realidade de mercado, com taxas de juros que beiram os 500% ao ano. Não há sinais de redução significativa dos juros de mercado: porque a banca, o grande capital, não acredita na dita “recuperação”. Ao contrário, com taxas elevadas atraem investidores estrangeiros. Os bancos são o empreendimento capitalista melhor sucedido no Brasil em crise econômica. E o resto é bobagem!
3. Outra indicação de “melhora” da economia: o recorde positivo da balança comercial brasileira, que mede a diferença entre importações e exportações. É outro péssimo sinal. As exportações aumentam, porque vendemos produtos brutos para o estrangeiro, como grãos e minérios. Mas as importações caem, porque o empresariado deixa de comparar máquinas no exterior para aumentar a produção. Voltamos ao país exportador de açúcar, café, borracha e bananas do século passado. Agora substituídos por soja, ferro, petróleo e carne. E o governo se orgulha disso.
Resultado: com ajuda da grande mídia, que evita a análise dos fatos econômicos e avulta o caráter reformista do governo Temer, fazemos de conta que está tudo bem. Mas o resultado é queda na produção, desemprego em massa e aumento do conflito social. O PIB de 2016 foi de 4,34% negativo, número cuidadosamente evitado pelo JN. O de 2017 será bem abaixo de zero. Isso quer dizer: a depressão continua, a inflação e os juros oficiais caem, porque se referem apenas ao déficit público, mas o povo pode passar fome.