A atuação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, ao desencadear a operação “Carne Fraca”, com grande estardalhaço, deixa muitas perguntas sem resposta. A primeira é óbvia: por que justamente no terceiro aniversário da Lava Jato? Seria uma rivalidade interna entre os federais, para mostrar quem faz o estrago maior ou quem é mais importante? Talvez apenas para afirmar que o país tem outras coisas importantes a investigar, como a comercialização de carne podre para os mercados interno e externo? Essa é a segunda pregunta óbvia. Mais uma: é apenas coincidência que a “Carne Fraca” tenha aparecido justamente quando denúncias graves da Lava Jato atropelavam ministros e aliados do governo Temer?
A minha quarta pergunta é ainda pior: se a ação policial foi apenas uma conspirata, seus autores tinham noção do desastre que causaria na já combalida economia brasileira? A reação interna foi de comoção nacional. As melhores marcas do marcado estariam vendendo produtos cancerígenos e fora de validade para o populacho em geral. As vendas caíram no supermercado. As ações das companhias desabaram na bolsa. E os consumidores internacionais reagiram com o cancelamento de importações. Verdadeiro tormento para uma das maiores cadeias produtivas do agronegócio. O Brasil é o maior exportador mundial de carne in natura.

O presidente e o ministro tentam explicar o inexplicável. Foto Agência Brasil.
Outra coincidência: a “Carne Fraca” foi divulgada na mesma semana em que o governo Temer lançava uma campanha publicitária, em todos os veículos, cujo mote é “o presidente certo na hora certa”. Talvez o mandatário, que carrega a pecha de golpista, tenha sido mal assessorado nessa questão. A “Carne Fraca” só mostrou que a corrupção atinge todos os lares do país. E o resto é bobagem. O estrago foi maior do que algum eventual dividendo político. E o próprio governo teve que sair a campo para reverter o dano econômico. Mas ainda não conseguiu.
O fato é que a tal operação federal já foi seguidamente denunciada por falta de provas científicas. A própria PF tentou dar meia volta. E o governo quer explicar aos estrangeiros que tudo isso é só mais uma trapalhada brasileira. Mas o prejuízo pode chegar à casa do bilhão de dólares.
Além de tudo o que você corretamente analisa, também a carne mostrou que é fortíssima. Foram os consumidores que obrigaram os países importadores e retomarem as compras brasileiras. Não haveria quem pudesse suprir o mercado com nossos preços. E tampouco suprir o mercado. Diria um consumidor chinês: tudo bem que se rejeite a carne dos brazucas, mas botem meu bife na gôndola do supermercado. O único resultado palpável é que os brasileiros tiveram de dar descontos para desembarcar as partidas que estavam no mar, viajando. Entre jogar fora ou trazer o navio de volta, melhor torrar na bacia das almas. .
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