A atuação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, ao desencadear a operação “Carne Fraca”, com grande estardalhaço, deixa muitas perguntas sem resposta. A primeira é óbvia: por que justamente no terceiro aniversário da Lava Jato? Seria uma rivalidade interna entre os federais, para mostrar quem faz o estrago maior ou quem é mais importante? Talvez apenas para afirmar que o país tem outras coisas importantes a investigar, como a comercialização de carne podre para os mercados interno e externo? Essa é a segunda pregunta óbvia. Mais uma: é apenas coincidência que a “Carne Fraca” tenha aparecido justamente quando denúncias graves da Lava Jato atropelavam ministros e aliados do governo Temer?
A minha quarta pergunta é ainda pior: se a ação policial foi apenas uma conspirata, seus autores tinham noção do desastre que causaria na já combalida economia brasileira? A reação interna foi de comoção nacional. As melhores marcas do marcado estariam vendendo produtos cancerígenos e fora de validade para o populacho em geral. As vendas caíram no supermercado. As ações das companhias desabaram na bolsa. E os consumidores internacionais reagiram com o cancelamento de importações. Verdadeiro tormento para uma das maiores cadeias produtivas do agronegócio. O Brasil é o maior exportador mundial de carne in natura.

O presidente e o ministro tentam explicar o inexplicável. Foto Agência Brasil.
Outra coincidência: a “Carne Fraca” foi divulgada na mesma semana em que o governo Temer lançava uma campanha publicitária, em todos os veículos, cujo mote é “o presidente certo na hora certa”. Talvez o mandatário, que carrega a pecha de golpista, tenha sido mal assessorado nessa questão. A “Carne Fraca” só mostrou que a corrupção atinge todos os lares do país. E o resto é bobagem. O estrago foi maior do que algum eventual dividendo político. E o próprio governo teve que sair a campo para reverter o dano econômico. Mas ainda não conseguiu.
O fato é que a tal operação federal já foi seguidamente denunciada por falta de provas científicas. A própria PF tentou dar meia volta. E o governo quer explicar aos estrangeiros que tudo isso é só mais uma trapalhada brasileira. Mas o prejuízo pode chegar à casa do bilhão de dólares.
Sobre Carlos Amorim
Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão.
Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano.
Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc).
Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes.
Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005).
A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações.
Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada.
Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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Além de tudo o que você corretamente analisa, também a carne mostrou que é fortíssima. Foram os consumidores que obrigaram os países importadores e retomarem as compras brasileiras. Não haveria quem pudesse suprir o mercado com nossos preços. E tampouco suprir o mercado. Diria um consumidor chinês: tudo bem que se rejeite a carne dos brazucas, mas botem meu bife na gôndola do supermercado. O único resultado palpável é que os brasileiros tiveram de dar descontos para desembarcar as partidas que estavam no mar, viajando. Entre jogar fora ou trazer o navio de volta, melhor torrar na bacia das almas. .
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