
O presidente Michel Temer e a primeira-dama Marcela Temer sob vaias durante desfile de 7 de Setembro, na Esplanada dos Ministérios (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Por volta das quatro da tarde desta quinta-feira (13 abril), o presidente Michel Temer apareceu em um pronunciamento ao país. Vi na Globonews. Ao invés de tranquilizar a opinião pública brasileira diante da maior crise político-econômica da história do Patropi, usou 30 segundos de TV para se defender como pessoa física. Disse que estava ali para dizer que não tinha feito nada de errado em toda a sua vida. Nem as pedras do calcamento acreditam nisso. A Lava Jato diz que Temer participou diretamente de uma negociação para arrecadar propina de 40 milhões de dólares (algo como 128 milhões de reais) em 2010, quando era candidato a vice de Dilma Rousseff.
A “Delação do Fim do Mundo”, patrocinada por 78 executivos da Odebrecht, maior empreiteira do país, envolve um terço do gabinete de Temer: 8 ministros. Atinge quase todos os partidos políticos com presença no governo e no legislativo, com exceção do PSOL e da Rede. O novo tsunami da Lava Jato já atinge 277 políticos, governantes, empresários, operadores financeiros e empresários. Está baseada em 40 das 78 deleções, o que significa que vem muito mais por aí. Além disso, o ministro Luís Édson Fachin, do Supremo Tribunal, após os 76 inquéritos criminais já autorizados, decidiu pela abertura de outras 25 ações penais mantidas em sigilo. A casa caiu mesmo!
Uma fonte na Polícia Federal me contou: ao todo, cerca de 2 mil pessoas serão envolvidas nesta nova etapa da Lava Jato, incluindo muitos funcionários públicos de alto escalão – muita gente acima de qualquer suspeita nos estados. E por falar em estados, 12 governadores da ativa são citados nas delações, quase a metade dos que existem no país. Finalmente, a Lava Jato vai sair de Brasília.
Outra questão importante: há acusações contra os partidos políticos, não apenas contra candidatos e aproveitadores. Isto quer dizer: no fim da linha, alguns partidos podem perder os registros eleitorais. Seria o melhor dos mundos. Um acerto de contas da sociedade contra os canalhas em geral. Mas é preciso considerar a morosidade da Justiça, especialmente nos tribunais superiores. O governo Temer pode acabar sem que tais questões sejam resolvidas. É nisso que os políticos comprados por empreiteiros apostam. O governo acaba sem punições. Temer já disse que só afasta ministros que sejam denunciados e que virem réus. Pode durar dois anos, no mínimo.
É com base neste tipo de raciocínio que Michel Temer vai à TV para dizer que é honesto. Ele sabe que tão cedo não haverá denúncias oficiais e condenações. Sabe que seu governo vai acabar antes. Usa a máquina pública, a NBR, TV estatal, para se defender como pessoa física – não como presidente do país. Mas ninguém vai reparar no detalhe.
Michel Temer é um presidente impopular, com cerca de 10% de aprovação pelas pesquisas de opinião. Justamente por isso, tenta aprovar reformas impopulares, porque não tem mesmo nada a perder . Tais reformas visam atender aos interesses do grande capital, responsabilizando os trabalhadores pela crise econômica. Aparentemente, não pode se candidatar à reeleição, em 2018, porque tem uma condenação de segunda instância no TRE de São Paulo, por doção ilegal em campanha eleitoral. Está na ficha suja. Ou seja: para ele tanto faz!