Antônio Palocci presta depoimento ao juiz Sérgio Moro e diz que está disposto a entregar todo mundo. A provável delação do ex-ministro é a pá de cal no sistema político. Vai atingir os grandes bancos e a elite do empresariado. Desastre total.

Palocci 01

Antônio Palocci. Imagem TV Brasil.

                                   Homem forte dos governos Lula e figura proeminente do PT, Antônio Palocci prestou depoimento hoje (20 abril) ao xerife da Lava Jato, o juiz Sérgio Moro, em Curitiba, dando conta de que está disposto a entregar todo o esquema de corrupção e fraude eleitoral. É uma bomba de Hiroshima sobre o sistema político brasileiro, respingando para o mercado financeiro, os grandes bancos e a elite empresarial do país. É pior do que a “Delação do Fim do Mundo”. Uma delação do ex-ministro derruba todas as torres até então consideradas intocadas. Pode ser a sentença de morte para o governo Temer, Lula, Dilma, FHC, o PT e demais partidos. Pouca gente no Patropi sabe mais do que ele.

                                   Palocci pode esclarecer, inclusive, o assassinato do prefeito Celso Daniel, supostamente em um esquema de corrupção de serviços públicos no ABC paulista. É nitroglicerina pura. Todas as forças políticas do país vão se mobilizar para impedir que tal delação de fato ocorra. E nisto incluo o governo, o Congresso, o STF, a PF e tudo o mais. Talvez até o Moro. Seria um evento de extinção da classe política e empresarial do país, tão misturadas na atividade criminal.

                                   Ao acompanhar as centenas de horas de depoimentos gravados em áudio e vídeo dos delatores da Odebrecht, cheguei à conclusão de que o Brasil tinha um rei e um príncipe até recentemente, que não pertencem à família Orleans e Bragança. Trata-se de Emílio e Marcelo Odebrecht, que dominavam o país a um custo de 1 bilhão de reais por ano, corrompendo todo o sistema político, eleitoral e executivo da República. Não são, nem nunca foram, parentes de Dom Pedro I. Mas reinavam soberanos sobre a terra brasilis. Ficamos sabendo que ministros, deputados, senadores e até presidentes se curvavam ao poder econômico da maior empresa privada do país – em troca de presentes, benesses e grana viva contrabandeada até em cuecas e ceroulas. Uma grana cujo destino final eram os paraísos fiscais. Algo como 10 bilhões de reais em apenas 9 anos.

                                   Enquanto isso, a ralé vulgar, o populacho, faz filas nos postos de saúde, sofre desemprego, anda espremida nos coletivos e é assaltada nos pontos de ônibus. E os caras riem. O próprio depoimento dos delatores da Lava Jato, todos criminosos, impressiona pelo cinismo e a cara de pau. Quem paga o pato, como diria o presidente da FIESP, Paulo Skaf, acusado de fraudes e corrupção, somos nós. E o que dizer da iludida classe média, que foi às ruas contra a corrupção petista sem saber que a bandalheira envolvia até os seus heróis? A conclusão óbvia, até agora, é de que poucos escapam da alcunha de ladrão e bandido. E a classe média quer a redução da maioridade penal, o encarceramento em massa e a pena de morte para o bandidinho pé de chinelo. E os canalhas desviam o dinheiro da merenda escolar, superfaturam obras públicas, elegem seus representantes para que a canalhice prospere infinitamente.

                                   O governo Temer, representante do grande capital, articula para aprovar medidas que interessam ao patronato. Não há uma única iniciativa de ouvir a opinião do eleitor, como por meio de referendos e plebiscitos. E – é claro  – pretende se proteger de punições judiciárias, como através da manutenção do foro privilegiado e da anistia ao caixa 2 de campanhas eleitorais. Caixa 2 é crime, especialmente porque o dinheiro sujo serve para encher os bolsos deles. Não necessariamente vai para campanha nenhuma. Fala em reforma da previdência, cuja intenção é garantir um superávit primário, com vistas a assegurar o pagamento dos juros da dívida interna aos bancos privados e aos investidores estrangeiros.  

                                   Reforma política, nem pensar. Reforma tributária, só se for no interesse das grandes companhias. Por que o governo não cobra a dívida do empresariado em relação ao INSS? Bilhões de reais. Por que não cobra a dívida do imposto de renda e do ICMS? Bilhões de reais. Mas o governo está todo mobilizado para jogar o peso da crise econômica nos ombros do trabalhador. Este é o país que temos para viver. A Receita Federal já disse que a sonegação de impostos chega a 200 bilhões de reais por ano. Bem maior do que o déficit público.

                                   E o resto é bobagem!    

                                        

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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Uma resposta para Antônio Palocci presta depoimento ao juiz Sérgio Moro e diz que está disposto a entregar todo mundo. A provável delação do ex-ministro é a pá de cal no sistema político. Vai atingir os grandes bancos e a elite do empresariado. Desastre total.

  1. antonio carlos disse:

    Perfeito.

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