Lula e Moro cara a cara: não o aconteceu nada demais, nenhuma prova arrasa-dora contra o ex-presidente acusado de corrupção. Em depoimento de 5 horas, Lula respondeu a todas as perguntas. E não saiu preso, como muitos esperavam.

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                                   Sob enorme aparato policial, Lula compareceu à audiência com o xerife da Lava Jato, o juiz Sérgio Moro. Não houve nada surpreendente. Os acusadores fizeram dezenas de perguntas. O ex-presidente respondeu a todas elas, contrariando as expectativas. Muita gente achava que Lula se recusaria a responder às acusações, o que seria entendido como uma forma antecipada de condenação. Não foi o que houve. Outros achavam que o metalúrgico nordestino fundador do PT seria confrontado com provas arrasadoras. Mas também não aconteceu. O interrogatório foi burocrático e frágil. Durou 5 horas, mas não acrescentou quase nada ao inquérito que imputa a ele uma propina de 3,7 milhões de reais, supostamente relacionada à compra e à reforma do triplex no Guarujá e à guarda de objetos relativos aos 8 anos do governo de Lula.

                                   Pensando bem, apesar do clima de ocupação policial-militar da cidade de Curitiba, não teve nada demais. Comedido e educado, Sérgio Moro jamais passou da elegância: tratava Lula como “senhor ex-presidente”. E não mostrou nada impressionante. Nem ele, nem os procuradores federais. Do lado de fora do prédio da Justiça Federal, havia apenas um desfile de tropas. Nenhum incidente. Nada a registrar. Quem imaginava, loucamente, que Lula seria preso, enganou-se redondamente. O processo é pobre do ponto de vista jurídico e apenas inflado pela sanha acusadora. Não havia como justificar uma prisão que a parcela antipetista aguardava. Moro sabe disso. A carreira dele está em jogo nesse momento. Se ultrapassar a linha vermelha em um milímetro, será atropelado pelos tribunais superiores. Como afirma o ditado popular: quem tem… tem medo!

                                   A ideia de Lula de transformar o interrogatório em ato político, em palanque, foi frustrada pelo fato de que não havia transmissão ao vido do interrogatório. E depois, ao deixar o tribunal e se dirigir à praça pública, outra frustração: as redes nacionais de televisão ignoraram o comício organizado no centro da capital paranaense, que tinha até a participação de Dilma Rousseff. Passou em branco. Os organizadores do ato público (CUT, MST, PT, PCdoB e outros) disseram ter reunido 50 mil manifestantes. A PM afirmou que foram apenas 5 mil. Na média das divergências, deve ter tido uns 10 mil. Mas o fato é que a Lava Jato, ao menos no caso do triplex, tem quase nada a oferecer contra Lula.

                                   Nos bastidores, comenta-se que Lula será condenado em primeira instância, nas mãos de Moro. Mesmo com pouca sustentação legal. Outros acham que o xerife vai olhar para o futuro e absolver Lula por falta de provas. Condenado este ano, o fundador do PT tem até junho do ano que vem para escapar de uma condenação em segunda instância. A partir daí, será oficialmente candidato à presidência em 2018. Tirá-lo da campanha, estando em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais, será muito mais difícil. Se sobreviver, pode ganhar.

          

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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