Durante os graves incidentes ocorridos em Brasília na última quarta-feira (24 maio), quando dezenas de milhares de manifestantes entraram em choque com as forças de segurança, o país teve um vislumbre do que ainda está por vir. O protesto, chamado Ocupa Brasília, foi subestimado pelo Planalto. Enquanto Temer conversava com aliados na sede do governo, a capital federal virava uma praça de guerra. Os esforços da polícia para impedir que a marcha do “Fora Temer” avançasse pela Esplanada dos Ministérios resultou em violência descontrolada. Oito ministérios foram depredados, três dos quais incendiados. A polícia do DF, com gás de pimenta, bombas lacrimogêneas e balas de borracha, não estava preparada para o tamanho do protesto. Nem para a violência causada pela intervenção das tropas de choque.
Por volta das duas da tarde, disseram a Temer que a situação estava fora de controle. E o presidente, apressadamente, convocou as Forças Armadas para garantir a lei e a ordem, como prevê a Constituição. A essa altura, colunas de fumaça se erguiam no Eixo Monumental da capital. Já havia 50 feridos, inclusive três policiais, e pelo menos uma pessoa atingida por arma de fogo. Apesar do decreto presidencial, o Exército retardou a presença de suas tropas, com exceção do Batalhão de Guardas, que tem alojamentos no Planalto e no Alvorada. Mas a força mesmo só apareceu após o encerramento dos conflitos. E por duas razões, que preocupam o Alto Comando: não ampliar o enfrentamento, que poderia resultar em mortos e feridos; não parecer que estava dando um endosso ao governo Temer, que considera uma excrecência.
As tropas surgiram durante a noite: 1.400 homens do Exército e da Aeronáutica. Posicionaram-se ao longo dos prédios atingidos pelos protestos. E mais nada. Não havia veículos blindados e muito menos os temidos tanques de guerra. Uma micro intervenção. E durou poucas horas, porque Temer, talvez reconhecendo o exagero, mandou recolher as tropas. Para alívio de todos – e talvez recuando por pressão dos próprios militares. Quando a notícia da ação das tropas chegou ao Congresso, todos os partidos de oposição se retiraram do plenário. E os governistas aproveitaram para aprovar algumas medidas de interesse de Temer. Ou seja: um quadro lamentável. Entre as Forças Armadas há um sentimento de que não se deixarão manipular por um governo duvidoso, no qual, inclusive o próprio presidente, é investigado por corrupção.
Só que o quadro político está se agravando. Enquanto Temer diz que tudo vai bem, o antagonismo aumenta. A perspectiva de conflitos de rua só faz crescer. Quem imaginaria que as centrais sindicais levariam 45 mil militantes a Brasília? E qual foi o apoio local, de estudantes e movimentos sócias? Além das ameaças jurídicas que pesam contra Temer e o governo, há a voz das ruas.
Quem viver, verá!
Sobre Carlos Amorim
Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão.
Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano.
Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc).
Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes.
Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005).
A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações.
Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada.
Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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Sindicatos vendidos… Doidos para tirar o Temer e colocar o Lula… Isso que é realmente triste.
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