PSDB mete os pés pelas mãos e se inviabiliza como alternativa de poder à era petista. Caciques do partido falam dois ou três idiomas diferentes e lançam as bases políticas na maior confusão.

 

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Aécio Neves, do PSDB, o grande derrotado.

 

                                   Por uma lógica cartesiana, após o mandato tampão de Michel Temer, o PSDB seria uma alternativa viável de poder aos 13 anos de governos petistas. Seria. Mas os sociais-democratas são tão atrapalhados que não conseguem produzir um projeto que faça sentido em meio à maior crise política e econômica da história do país. Com a queda de Dilma Rousseff, o tucanato aderiu a Temer com 4 ministros. Optou por ter visibilidade política, acreditando que poderia fazer diferença no núcleo do PMDB. Mas o governo formado por Michel Temer era – na verdade- um grupo de amigos e cúmplices em décadas de desmandos e de corrupção.

                                   Resultado: os tucanos se enredaram em um movimento marcado por denúncias e quedas sistemáticas dos apoiadores de Temer, quase todos acusados de crimes graves contra o interesse público. A fúria da Lava Jato desabou, inclusive, contra os próceres do PSDB. Especialmente Aécio Neves, provável candidato do partido às eleições presidenciais do ano que vem. Agora terá sorte se escapar da prisão. A irmã dele, Andrea, e o primo, Fred, já estão em cana. No fim das contas, os tucanos se confundiram com o velho e destratado PMDB, de onde saíram como críticos há quase 20 anos. E não sabem como escapar do labirinto que pode traga-los para um desastre eleitoral em 2018.

                                   A executiva do partido, mesmo diante da avalanche de denúncias contra o governo Temer, decidiu ficar. Ao que tudo indica, em troca de dois favores: o apoio do PMDB ao candidato tucano em 2018, o que teria enorme efeito sobre o tempo de propaganda eleitoral na TV, e para tentar salvar o mandato e a liberdade de Aécio Neves. Um erro crasso. Tanto é verdade, que o maior expoente do partido, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, passou a defender eleições diretas para superar a crise. Ou seja: uma barafunda total. E o partido também recorreu da decisão do TSE que absolveu a chama Dilma-Temer.

                                   A diferença de opiniões internas no PSDB ameaça rachar a agremiação. Miguel Reali Júnior, um dos juristas do partido que assinou o impeachment de Dilma, abandonou a sigla. Disse que não poderia conviver com a situação. Há uma divisão entre as bases jovens, chamadas de “cabeças pretas”, e os mais velhos, indicados como “cabeças brancas”, em referência à tonalidade dos cabelos. Aécio Neves está em vias de extinção, porque foi apanhado recebendo dinheiro duvidoso da JBS. Outros são suspeitos na Lava Jato, inclusive José Serra, citado em delações e que se demitiu do governo.

                                   O PSDB, que perdeu as eleições de 2014 para o PT por apenas 3,27% dos votos válidos, abandona o bonde da história. Apoia reformas impopulares, voltadas ao interesse do grande capital e do patronato, desgastando a sua imagem pública. Perde a aura de “pai do Plano Real”. E não sabe o que fazer.

                                   Se Lula escapar de Sérgio Moro, vence a eleição.          

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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