
Luísa Ortega Díaz, que foi Procuradora-Geral da Venezuela, indicada por Hugo Chaves, fugiu do país na semana passada. Esteve na Colômbia, onde foi recebida com honras de Estado. Está a caminho do Brasil. Ou já chegou? Deve ser recebida amistosamente pelo governo Temer. Nosso ministro de relações exteriores, o ex-guerrilheiro da ALN Aloísio Dias Ferreira, hoje tucano de direita, pode recebê-la com pompa e circunstância. Mas, provavelmente, o destino de Luísa é o asilo político junto a Donald Trump.
Com o fim da guerra civil na Colômbia, que durou meio século e matou centenas de milhares de pessoas, a Venezuela bolivariana é o grande foco de tensões na América Latina. Trump já deixou bem claro que Nicolás Maduro é inimigo da América. O Pentágono e a CIA fazem estudos intervencionistas, caso ocorra uma ruptura política e social no país vizinho. Cerca de 40 mil venezuelanos já fugiram para terras tupiniquins, pelas fronteiras do Norte. Mas não interessa ao Brasil dar abrigo a Luísa Díaz, por causa da liderança brasileira no Mercosul. É melhor deixar que ela passe rumo ao abraço de afogado de Donald Trump.
O presidente americano aproveitou a terça-feira (22 ago) para anunciar o envio de militares para o Afeganistão, de modo a exterminar os terroristas do Talibã. Aprovou a transferência de 4 mil homens das forças especiais. Isto agrada ao complexo militar-industrial dos EUA, onde um em cada 10 trabalhadores serve à causa bélica. Uma guerra nas Américas seria a realização do sonho do Tio Sam. Mas ele sabe que um Vietnã na Venezuela teria trágicas consequências. São quase 32 milhões de venezuelanos. Três vezes o Vietnã. O envolvimento americano na Indochina, iniciado por John Kennedy, durou 11 anos e custou 350 mil baixas, entre as quais 57 mil mortos. Mais do que na Segunda Guerra Mundial. Três e meio milhões de americanos passaram pela Indochina. Foi um desastre inacreditável. Oito mil aeronaves foram derrubadas no Vietnã, de balões a jatos supersônicos. A indústria bélica americana sorriu com dentes arreganhados.
Não custa lembrar: Kennedy assinou uma ordem executiva secreta autorizando uma intervenção militar americana no Brasil, contra a suposta “república sindicalista” de João Goulart. Johnson, sucessor de Kennedy, assassido em Dalas em 23 de novembro de 1963, autorizou o envio de uma forma militar ao Brasil, a Operação Brother Sam, para apoiar o golpe militar de 1964. Não foi necessário, porque não houve resistência. As ditaduras se espelharam do Brasil para o Chile, a Argentina, o Paraguai, o Uruguai, Nicarágua, El Salvador, Guatemala e mais. Cinquenta mil pessoas morreram na América Latina.
Agora o Tio Sam elege o novo inimigo no continente. Não tem mais Lula. A bola da vez é Nicolás Maduro. O regime bolivariano despreza as classes médias e as elites. Se apoia nos pobres. Armou milícias. Gastou 5 bilhões de dólares em armamentos russos. Preparou-se para o confronto. Que está prestes a acontecer. Protestos de rua já mataram 130 pessoas este ano. E o governo Temer recebe Luísa Díaz temeroso. Não sabe o que fazer com ela, sem assumir uma posição direitista contra a Venezuela.
Sobre Carlos Amorim
Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão.
Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano.
Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc).
Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes.
Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005).
A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações.
Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada.
Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
Estamos avisados, apesar de termos uma pequena visão deste grande universo de relações, interesses e (más) intenções. Temos que nos manter alerta. Obrigada, Amorim, pela clareza e por nos entregar uma visão tão oportuna sobre estes movimentos. Precisamos ficar de olhos bem abertos!
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