Michel Temer está nu: base de apoio do governo se recusa a votar a impopular reforma da Previdência. É medo do eleitorado no ano que vem. Pode morrer na praia.

2a denuncia contra temer 02

Temer comemora vitórias esperada, porém duvidosa.

 

                                   Enquanto Dilma Rousseff amargava forte reação da classe média contra o governo dela, o PT e a corrupção, o vice Michel Temer cuidava de preparar um programa de poder chamado “Uma ponte para o futuro”, adjetivado de “pinguela” por Fernando Henrique Cardoso. O conteúdo político do manifesto de rompimento com Dilma, uma senha para a rebelião dos setores conservadores no Congresso, resultou no impedimento da primeira mulher presidente do país. Era coisa velha. Desde os tempos da oposição de direita a Getúlio Vargas, depois que o caudilho voltou pelo voto popular.

                                   No entanto, por trás daquelas mal traçadas linhas da “ponte”, havia um projeto rigorosamente alinhado com o grande capital, nacional e estrangeiro, cuja intenção era realizar “reformas” na Constituição de 1988 e superar as defesas criadas pela CLT aos trabalhadores. Esses direitos custavam caro ao governo e ao patronato. A Constituição do Doutor Ulisses Guimarães chegou a tabelar os juros bancários em 1% ao mês. Imaginem tamanha heresia! A CLT defendia o 13º salário, férias remuneradas, multas para demissões sem justa causa etc. Coisas inéditas em boa parte do planeta.

                                   Temer acenou com reformas para romper a barreira da legislação, com base na maioria parlamentar que tinha, superando a etapa “dilmista” de baixa comunicação com o Brasil real e quase total incapacidade de se relacionar com a política prática – ou seja: um Congresso abastardado. Michel foi na contramão do PT, oferecendo benesses e formas indiretas de financiamento ao empresariado, como a redução das obrigações trabalhistas, que custam demais para as empresas, e perdão fiscal para vários setores. A tese envolvia uma reforma fiscal, que nunca saiu do papel; reforma política, impossível com tal Congresso; reforma trabalhista, aprovada com danos apenas para o campo do trabalho; limitação dos gastos públicos por 20 anos, aprovada, atingindo o investimento público em educação, saúde, tecnologia, pesquisas, ciência e segurança pública. Enquanto isso, Temer aprovava a liberação de bilhões de reais para as famosas emendas parlamentares ao orçamento da União, uma das mais notórias formas de corrupção política no Patropi.

                                   Mas o grande nó surgiu quando a Lava Jato e a PGR acusaram diretamente o núcleo do poder. Temer, ministros, apoiadores, aliados. Malas de dinheiro foram expostas na TV. A Globo rompeu com o regime, coisa que não vi em nenhum momento da alardeada Nova República. Temer reagiu cortando verbas públicas de publicidade. E – pela primeira vez, salvo engano – o controle da verba de propaganda foi alocado na sala ao lado do trono. Moreira Franco, ministro acusado de formação de quadrilha (salvo engano), agora controla a divisão do bolo publicitário.

                                   A reforma da Previdência. Esta atinge diretamente milhões de brasileiros e muitos mais de seus parentes. Aí a cobra enrola o rabo. A base de apoio de Temer, fora o trocadilho, teme o julgamento popular nas urnas de 2018. Quem ficar a favor, pode perder votos decisivos. Sem votos, perde o privilégio de foro para serem julgados na justiça comum. E há um número incontável de políticos acusados na faina do Ministério Público e da polícia contra eles. Temer pode ser abandonado na reta final de seu projeto de alinhamento com o patronado. Há quem diga que já era. Falha ao avistar a praia. A típica morte ao chegar.           

 

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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