Frente Brasil Popular anuncia programa radical de apoio a Lula. A campanha presidencial de esquerda começa ainda este mês, com ações em todo o país. A FBP promete manifestações nos tribunais federais nas capitais e um grande cerco em Porto Alegre, onde Lula será julgado no dia 24.

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                                   A campanha presidencial deste ano foi antecipada pelo anúncio da Frente Brasil Popular (reúne 88 partidos de esquerda e movimentos sociais organizados), que pretende realizar protestos, ocupações e passeatas durante todo o ano. Trata-se de um movimento pacífico. Mas, segundo seus próprios organizadores, radicalizado. A convocação foi feita nas redes sociais, por meio de um vídeo gravado pelo líder do Movimento dos Sem Terra (MST), João Paulo Stédile, um dos coordenadores da Frente Brasil Popular.

                                   Em um depoimento de aproximadamente cinco minutos, Stédile informou: a partir do dia 22 deste   mês, os militantes da organização de oposição ao governo Temer serão convocados a realizar protestos diante dos tribunais federais em todas as capitais brasileiras. Objetivo: demonstrar a rejeição dos trabalhadores ao julgamento de Lula, em segunda instância, marcado para Porto Alegre no dia 24. Se o ex-presidente for condenado, será impedido de concorrer ao pleito. “Eleição presidencial sem Lula é fraude”, disse o líder do MST, acrescentando que “vamos resistir a qualquer tentativa de retrocesso na democracia brasileira”. É não só um protesto, como uma ameaça à continuidade do que chama de “governo golpista”.

                                   Para o dia do julgamento de Lula, em Porto Alegre (sede do TRF-4, que revê decisões do juiz Sérgio Moro em segunda instância), a Frente Brasil Popular promete megamanifestações na capital gaúcha e em Curitiba. O poder judiciário gaúcho já determinou o bloqueio físico de toda a área em volta do tribunal e proibiu manifestações populares que não tenham autorização prévia. A FBP diz que vai assim mesmo. O próprio governo gaúcho estima em ao menos 50 mil o número de manifestantes. Ou seja: há uma boa perspectiva de conflitos. Um enorme aparato policial está sendo montado, em um estado onde o governo não paga em dia os salários do funcionalismo. Mais um complicador. Forças federais estão sendo cogitadas para intervir. É o cão chupando manga!

                                   Stédile, no vídeo da Web, também disse que o movimento continua em 8 de março, dia internacional da mulher, “quando convocamos as companheiras a defender os direitos das mulheres”. Sugeriu marchas de protesto em todo o país. Depois, segundo o coordenador da FBP, a convocação de um “congresso do povo, de modo a discutir a situação do país e encontrar os culpados”. Tal congresso iria se reunia a nível municipal, estadual e nacional, culminando, após a Copa do Mundo, em um encontro no Maracanã, no Rio, “reunindo 100 ou 120 mil militantes”. As conclusões dos debates seriam incluídas no programa de governo de Lula. E, depois disso, uma forte campanha nas ruas.

                                   O Palácio do Planalto – é claro – não comentou a convocação da Frente Popular. Mas, nos bastidores, montou uma força-tarefa de acompanhamento do movimento. O trabalho é liderado pelo general Sérgio Etchegoyen, ministro da Secretaria de Segurança Institucional da Presidência, envolvendo a Abin (Agência Brasileira de Informações, a CIA tupiniquim) e a Polícia Federal. Como os leitores desse site já sabem, até pelo caráter das minhas pesquisas, tenho algumas fontes em uniformes da ativa. No ambiente militar, há preocupações importantes. A primeira delas é a de que modo um governo impopular, sofrendo graves acusações de corrupção e de banditismo organizado, pode conduzir reformas impopulares sem produzir conflitos sociais. E como evitar a violência nas ruas, que levaria a uma intervenção das Forças Armadas, pela quebra da ordem constitucional? A quem interessa um estudante morto com um tiro no peito, que desencadeou a resistência contra o regime militar, em 1968?

                                   O pessoal em uniforme se pergunta a respeito do melhor caminho. Um concerto nacional, com Lula, pode ser o melhor caminho. Investidores estrangeiros já chegaram à mesma conclusão. Entre as agências de informações das Forças Armadas, tão diferentes hoje do que eram na ditadura, há um temor de uma reação da extrema-direita, que aposta no conflito. Entre Lula, o primeiro colocado nas pesquisas, e Jair Bolsonaro, o segundo, qual a melhor escolha? Extremos desinteressantes. O avanço de Bolsonaro empurra Lula para a esquerda radical. O avanço de Lula aponta para o centro. Os governos de Lula foram muito aquém do radicalismo de esquerda. E o país cresceu, em média, 4% ao ano. Como seria com a direita radical de Bolsonaro? Ele chegou a dizer que o maior erro da ditadura foi prender mais do   que matar.

Como um investidor de Wall Street vê essa dicotomia?                                              

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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