
O interventor Walter Braga.
A partir de hoje (16 fev), o general-de-exército Walter Souza Braga Netto é o comandante de todas as forças de segurança no Rio de Janeiro. Tem carta branca para agir. Só presta contas ao presidente Michel Temer. Ao mesmo tempo, o Planalto anuncia a criação de um Ministério da Segurança Pública. O plano de intervenção e a criação da nova pasta parecem um golpe publicitário destinado a melhorar a imagem pública de Temer, que amarga a pior avaliação de um presidente na história da República.
Durante o carnaval, o Rio esteve abandonado à própria sorte. O governador Pezão estava curtindo a festa na cidade natal, no interior do estado. O prefeito Crivella fazia turismo na Europa. Os presidentes da Assembleia Legislativa e do Tribunal de Justiça não foram vistos durante a onda de violência. O comandante da PM e o delegado-chefe da Polícia Civil, também não. A festividade de Momo registrou dezenas de choques armados, milhares de assaltos e um número incalculável de roubos e furtos. Houve saques em supermercados, estações do metrô e ônibus. Os crimes de morte ainda não foram calculados.
Em pronunciamento público, ao assinar a intervenção, Temer declarou que a situação estava sem controle e que “o crime organizado é uma metástase que se espalha pelo país”. Esqueceu-se de comentar a ação do crime organizado nos altos escalões da República. Talvez porque ele mesmo é acusado de comandar uma organização criminosa destinada a assaltar os cofres públicos. Também não disse nada sobre as denúncias que pairam sobre seus companheiros no Planalto e no MDB.
Ou seja: parece um gesto vazio de conteúdo, com vistas a uma ação de marketing enquanto o governo afunda em desmandos e fracassos. Diante do desastre da malfadada reforma da previdência, a cada dia mais improvável, Temer precisava encontrar uma saída, como um passe de mágica. Ouviu mais os marqueteiros do que os especialistas em segurança. Chegou ao absurdo de afirmar: como resolvemos a recessão econômica, também resolveremos a criminalidade. Seria engraçado, se não fosse trágico em um país que tem, em números absolutos, o recorde mundial de homicídios. E somos o maior consumido global de crack e o segundo em consumo de cocaína.
A intervenção militar foi decretada sem um planejamento prévio. O general Walter Braga, no encontro com os jornalistas, garantiu: “no momento não tenho nada a anunciar”. E não tem mesmo! Está cumprindo ordens superiores. E mais nada! Aliás, o general estava de férias e foi apanhado de surpresa, convocado às pressas, como todos nós. Pior: para a classe média desiludida, que clamava por uma intervenção militar contra a corrupção, surpresa total: foi um governo acusado de corrupção que chamou os militares. E chamou contra quem? Contra o bandido avulso, batedor de carteiras, ladrão de celulares. E contra a comunidade pobre, que será cenário de cercos e operações militares.
Contra o narcotráfico organizado, que também está presente nos altos escalões da República, supostamente envolvendo deputados e senadores, além de grandes empresários, não há plano nenhum. A intervenção militar vai se reduzir a uma espécie de “estado de sítio” nas comunidades pobres. Como foi o caso das fracassadas UPPs. Certamente, não haverá cercos táticos em Brasília. Fica tudo nas costas da população, as vítimas das balas perdidas da vida.
Não há como evitar outra conclusão apressada: a intervenção tem características de uma chantagem política, quando o presidente Temer diz que será suspensa para a votação da reforma da previdência. Como assim? Decreta-se intervenção militar no segundo estado mais importante da Federação, para proteger o público em geral, mas suspende-se a intervenção para votação no Congresso? Então não era para proteger a população desamparada do Rio? Era para obter mais apoio da bancada fluminense à reforma? Ou talvez para ameaçar outros estados que vivem situação semelhante?
Parece incrível. Mas no Patropi cabe tudo.
Amorim faz uma análise perfeita e abrangente do problema do Rio de Janeiro. É uma questão se segurança pública, mas de forte repercussão política. Quem dobrar o crime no estado fluminense pode ser candidato à reeleição. Um aspecto relevante, do ponto de vista estratégico, é que as gangues (autodenominadas facções) estão bem armadas e dominam o terreno. Seus efetivos são equivalentes às milícias do Estado Islâmico que tomaram cidades no Iraque. Vencê-los pode ser uma batalha. Seria caso para Lei Marcial? Com esta legislação que está aí as forças de segurança continuarão na defensiva. É preciso lembrar que a guerra nos morros é entre quadrilhas. A polícia só assiste. Entretanto, segundo se falou, o Exército tem informação e um plano desenvolvido a partir da experiência no Haiti. Vamos ver. Aguardo análises sobre aspectos táticos. Amorim é o autor do momento.
CurtirCurtir