Como será o conflito armado no Rio, segundo a estratégia militar e os manuais da guerra urbana? Leia e veja se é isso que você quer para o seu país.

general walter braga 01

O interventor Braga Netto.

Os leitores deste site sabem que há muitos anos pesquiso e analiso questões relacionadas com a violência urbana e o crime organizado no país. E também sabem que fontes de informação em uniformes na ativa das Forças Armadas ajudaram a entender o noticiário relativo ao tema. Não seria possível desenvolver tantas teses sem a participação de agentes diretamente envolvidos na matéria. É com base nessas informações exclusivas que adianto acontecimentos que ainda iriam ocorrer. Alguns com anos de antecedência, como foi o caso do fracasso das UPPs.
Acrescento que não tenho filiações partidárias, nem patrocinadores. Este site é mantido por meu próprio esforço, tendo acumulado mais de 350 mil leitores ao longo do tempo. Digo isso para esclarecer: o que vocês vão ler a seguir é fruto dessa longa experiência. Não vou citar fontes oficiais. Não darei nome aos bois, sejam de que lado forem. Trato de rascunhar o cenário de como podem se desenrolar as operações militares no Rio, após a decretação da intervenção federal na segurança pública da capital do país mais conflagrada pelo conflito armado.
No ambiente das forças de segurança, desenha-se um modelo de operações de combate ao narcotráfico. Tudo sigiloso. Sempre a portas fechadas. Tento aqui iluminar um pouco o palco das decisões. Na semana que vem, o interventor, general Braga Netto, chefe do Comando Militar do Leste, vai falar publicamente. E deve esclarecer, revelando muito pouco, qual o plano genérico de ação. Ouso apresentar os principais itens deste manual.
Ao menos 20 mil homens das forças federais devem sem empregados. Acompanhem as etapas:
1. Cerco estratégico: vigilância e ocupação das principais rodovias de acesso ao Estado do Rio. Bloqueio de rodovias como a Dutra, a Rio-Santos, Rio-Bahia e outras menores. Bloqueio naval de áreas críticas, como as baias de Angra dos Reis, Parati e o fundo da Guanabara. Alguns navios de grande porte serão vistos. Vigilância e ocupação das principais vias de acesso à capital: as linhas vermelha e amarela, a Avenida Brasil, a zona portuária, a região do gasômetro do Rio e outras. As avenidas Presidente Vargas e Rio Branco, o Aterro do Flamengo e as praias. Nesta fase estarão presentes forças do Exército e da Marinha, além de cobertura aérea e fechamento espacial em algumas regiões. As polícias estaduais e rodoviária federal, com ajuda da Força Nacional, estarão envolvidas, principalmente na Baixada Fluminense, Niterói e São Gonçalo. A Polícia Civil deve aparecer em ações na Região dos Lagos, especialmente em Cabo Frio, Arraial do Cabo e Búzios. Bloqueios de fronteiras com Minas, Espírito Santo e São Paulo são espera-os e devem ser simultâneos, empregando forças locais.
2. Cerco Tático: o comando das operações deve selecionar algumas áreas criticas sob controle do narcotráfico e das facções criminosas, talvez quatro ou cinco das mais importantes. Tropas especiais (Brigada Paraquedista, Fuzileiros Navais e o Batalhão das Forças Especiais do Exército, por exemplo, as melhores forças disponíveis) devem ser empregadas nesta fase. O cerco é reduzido a uma comunidade, um bairro, algo como cinco ou seis quilômetros de extensão e largura. Aqui se empregam tanques e veículos blindados. Sob comando do Exército, entram forças como o BOPE e o CHOQUE da PM, que conhecem melhor o terreno, incluindo cães farejadoras. O cerco tático é para inviabilizar a fuga dos criminosos, que ficam restritos a um espaço mais controlado.
3. Operação de Comandos: a partir do cerco tático, grupos especiais, aerotransportados, desembarcam no centro do perímetro, estabelecendo uma base segura. Dispõem de grande poder de fogo. Das laterais, em cinco ou seis pontos diferentes, as forças entram na direção do centro da ocupação. Quando for possível, com blindados. Caso contrário, com as botas no chão. São grupos pequenos, do porte de um pelotão: algo como 20 homens. Em cada um desses grupos há uma metralhadora tipo SW240, 7.62mm. Um lançadores de granadas, tipo RPG, 40mm, ou um lança-chamas. A convergência de todos os grupos para o centro do cerco tático vai produzir um enfrentamento cara a cara com os criminosos. E deve haver um grande número de baixas de parte a parte, com algumas vítimas civis.
4. Operação de limpeza: a última fase envolve uma operação de resgate de feridos e mortos, combate a incêndios, defesa civil e coisas do gênero. Inclusive recolher material bélico abandoado, como carregadores de fuzis e granadas não detonadas. É o rescaldo do conflito armado.
Se o governo brasileiro optar por tal tipo de ação, talvez tenhamos algum resultado temporário na luta contra o narcotráfico. Mas teremos que assumir as baixas civis e convocar uma nova Comissão Nacional da Verdade para investigar as violações da lei nesse período. Foi o que antecipou recentemente o comandante-geral do Exército, o general Eduardo Villas-Bôas.
Assumiremos o estado de guerra civil não declarado no país. Estaremos ao lado de Colômbia  e México.
Veremos um governo impopular como o de Michel Temer, acusado de crimes graves, decidir um conflito de tal magnitude social, a um custo de milhões de reais para um país falido, às vésperas de uma eleição presidencial.
Queremos isso?

 

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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