Jugmann não tem um plano para a segurança. Os militares, também não. A intervenção no Rio está reduzida a ações administrativas. Aparentemente, as Forças Armadas não querem entrar em combate direto com o narcotráfico.

                                   Michel Temer se reuniu com representantes de todos os estados nesta quarta-feira (1 mar), em Brasília, para discutir a questão da segurança pública. Ouviu uma choradeira: falta de verbas, salários atrasados, sucateamento das frotas, superlotação carcerária e a churumela de sempre. Não apareceu um único projeto de política de segurança. De sua parte, o novo ministro Raul Jugmann fez anúncio bombástico: iria aumentar em 500 agentes o efetivo da Polícia Federal, mais 500 para a Polícia Rodoviária, além de garantir que 29 delegados seriam deslocados para a área de investigação contra o crime organizado. Ah, sim: iria dobrar o efetivo de fronteiras, de 150 para 300 agentes. Temos 11 mil quilômetros de fronteiras secas e mais 8 mil quilômetros de litoral.

                                   Até agora, foi todo esse o arsenal de reação do Estado brasileiro contra a onda de violência que vitima o país: 61,6 mil homicídios; 37 mil desaparecidos; 6 milhões de assaltos a mão armada, cerca de 300 mil vagas faltando no sistema prisional e algumas cositas mais. O governo oferece um esparadrapo para quem levou um tiro de AR-15 na barriga. Pior: somos o primeiro consumidor mundial de crack e o segundo de cocaína. Nem uma palavra sobre isso.

                                   Toda vez que uma onda de violência intimida o país, como no carnaval do Rio, nossos governantes respondem com a incorporação de policiais e a compra de armamento e viaturas. Há nesses casos inúmeros episódios de superfaturamento e desvios de verbas. Exemplo: a compra de milhares de pistolas Taurus P40, que disparam sozinhas, sem que o gatilho seja pressionado. Outro exemplo: a Guarda Civil Metropolitana de São Paulo adquiriu um carregamento de munição calibre 12, para uma corporação que não dispunha de armas deste tipo. A explicação: a GCM iria adquiria carabinas calibre 12, mas houve uma promoção da munição respectiva. É como aquele sujeito que não tem carro e se depara com a promoção de pneus em um supermercado.

                                   Vimos pela TV a coletiva da junta militar que tomou posse na segurança do Rio. Três generais do Exército, um coronel do Corpo de Bombeiros (entrou mudo e saiu calado) e um civil que sequer foi apresentado aos jornalistas. Deste encontro não surgiu nenhum projeto, a não ser resolver “gargalos” de infraestrutura e logística. Uma intervenção apenas administrativa. Parece que os militares não querem entrar em combate direto com o narcotráfico, em razão do dano político que iria produzir, da repercussão internacional e das baixas inevitáveis. A classe média, desiludida com os políticos, deve estar roendo as unhas. Foi enganada de novo.  

                                   Ninguém quer carregar cadáveres. Com quase certeza, virar o foco do governo Temer para a segurança, após a fragorosa derrota na reforma da previdência, é apenas uma ação marqueteira. Só que o crime está nas ruas, amado até os dentes. Não teme os uniformes. Ao contrário, pretende desmoralizar os governos e reforçar as suas bases sociais nas comunidades pobres. Temer ofereceu 42 bilhões de reais, via financiamentos do BNDES, para a segurança pública, pagáveis em 8 anos, com dois anos de carência. Mais um gesto administrativo, que não leva em conta as razões objetivas da violência instalada no país.

                                   Vamos dar mais dinheiro para governantes duvidosos, em troca de algum apoio político eventual? Vamos! É assim que a coisa funciona. Sobre esse negócio de pobres, pretos e favelados continuarem morrendo aos milhares, nem uma única linha nas reformas. No caso da reforma da previdência, também não havia nada sobre os sonegadores. Ficava tudo no ombro do trabalhador. Por isso não deu certo.

                                   O Brasil teve, historicamente, duas políticas de segurança. A primeira foi na ditadura de Getúlio Vargas (1930-1945), durante o Estado Novo. A segunda foi no regime militar (1964-1985), com a Lei de Segurança Nacional (LSN), que estabeleceu inclusive a pena de morte. Mas as duas pretendiam a segurança do regime e do grande capital. Agora, quando se pretende a proteção da família e do cidadão, não há nenhum projeto viável. Por que?

                                     

                                  

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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