
Tropas vão às ruas do Rio esta semana.
Seria essa a intervenção sonhada pela classe média desiludida com Lula, Dilma e o PT? Vale lembrar: nos protestos contra o governo petista, as pessoas diziam: “primeiro a gente tira a Dilma, depois vê o que faz”. O que veio depois foi a tão reclamada “libertação” das garras petistas, partido classificado como “um bando de ladrões”? Depois veio o governo de Michel Temer. A prisão de Eduardo Cunha, o cai-cai de ministros acusados de corrupção e tudo o mais que a gente já conhece.
Note-se: o “depois a gente vê” permitiu a ascensão do “centrão”, um grupo de 12 partidos ditos fisiológicos, antes chamado de “baixo clero”, garantindo a maioria de Temer no Congresso. Com apoio do PSDB, DEM e PPS, a maioria virou absoluta. Ergueu-se um Congresso ultraconservador, como jamais se viu no pós-ditadura. Temos a bancada do boi, a bancada da bala, a bancada evangélica e coisas do gênero. Além de reformas duvidosas, todas altamente impopulares (temos talvez o presidente mais mal avaliado da Nova República), Temer tentou acabar com reservas florestais, em favor de mineradoras, adotou e desadotou ações questionáveis, supostamente conspirou contra a Lava Jato.
Nomeou um diretor geral da Polícia Federal que passou a agir como se fosse advogado do Presidente, provocando uma revolta na corporação. Participou de reuniões secretas com o presidente. No mínimo, fora da agenda oficial. O delegado teve o segundo mandato mais curto na história da PF, apenas quatro meses. Mas Temer deu a ele um emprego cobiçado em Roma, como adido diplomático policial, coisa jamais vista. Temer passou mais tempo tentando se livrar de acusações do que propriamente governando. E ainda teve o episódio quase ridículo de Cristiane Brasil, nomeada para o Ministério do Trabalho. Mas… ”depois a gente vê”.
Agora temos o reforço da presença militar no governo. Estiveram quietos desde o fim do regime uniformizado (1964-1985). Omitiram-se na discussão e na revisão crítica de todo o período, encerrando uma importante contribuição para a historiografia militar e para a própria compreensão do país. Praticamente não se ouviu mais falar da Escola Superior de Guerra, com sede no Rio, um importante centro de estudos da realidade brasileira. Estavam em silêncio, possivelmente remoendo crimes cometidos na ditadura. Envergonhados? Não. Eles não admitem os abusos do regime de exceção. De toda forma, tal silêncio produziu um vácuo na compreensão de 21 anos de história.
Surpreendentemente, neste ano de eleições gerais, aceitaram a convocação de um governo acusado de crimes graves para voltar ao cenário político. Enquanto uma parcela considerável da opinião pública queria uma intervenção militar contra a ladroeira e a corrupção, os uniformes de quatro estrelas surgem em garantia da lei e da ordem.
Incapaz de concluir um ciclo de reformas destinado a privilegiar o grande capital, nacional e estrangeiro, Temer resolveu tocar em um ponto sensível para a população, como forma de obter dividendos políticos: a segurança pública. E por que os militares resolveram embarcar nessa aventura, contrariando a boa imagem pública que têm? Porque querem garantir uma transição pacífica entre a porcaria reinante e o próximo governo, eleito pelo povo. Com tropas nas ruas, asseguram uma presença forte, que não pode ser desconsiderada por nenhuma das forças políticas envolvidas.
No ambiente das Forças Armadas, tal papel regulador está bem afinado. Não permitirão rupturas constitucionais. Com Lula ou sem Lula. Principalmente, com povo ou sem povo nas ruas. Já que estão nas avenidas do país, supostamente a garantir a ordem pública, no Rio e em mais 7 estados, podem também se envolver na garantia do resultado das eleições de 2018.
Em qual sentido? Isso não sabemos.