Lançada a 14ª edição de “CV-PCC: A irmandade do Crime”. O livro faz parte da primeira trilogia nacional sobre violência urbana e crime organizado, duas vezes vencedora do Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro (CBL).

 

001

“Assalto ao Poder” e “CV-PCC: A irmandade do crime”.

                                   A série de publicações sobre o tema, iniciada em 1993, já acumula 24 edições vendidas até agora, sendo uma de bolso. O primeiro livro, “Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado”, foi vencedor do Prêmio Jabuti de 1994, na categoria reportagem. O segundo, “CV-PCC: A irmandade do crime”, chegou às livrarias em 2004. O terceiro volume, “Assalto ao poder”, publicado em 2010, venceu o Jabuti no ano seguinte. Trata-se da primeira trilogia brasileira sobre violência urbana e crime organizado, revelando detalhes sobre a expansão das facções criminosas.

                                   O trabalho de pesquisas e redação consumiu metade da minha vida. De lá para cá, a situação só fez piorar, diante da insensibilidade dos governantes em relação ao drama da segurança pública. Um drama que vitima, especialmente, as camadas mais desfavorecidas da população. Em 2016, registramos um recorde de violência, com 61,6 mil homicídios e 37 mil desaparecidos. Em números absolutos, somos o país que mais mata no mudo. As guerras modernas, como na Colômbia e na Síria, são fichinha diante da sanha assassina no Brasil.

                                   Somos hoje o maior consumidor de crack no planeta. O segundo lugar em consumo de cocaína em pó. Acumulamos recordes em matéria de crimes de internet e fraudes bancárias. Sem falar em violência doméstica e crimes contra as mulheres. Acumulamos números absurdos em matéria de estupros e corrupção sexual de crianças. De alto a baixo, somos uma nação corrompida. A corrupção começa no guarda de trânsito – e termina no alto empresariado, em todos os escalões da República e num conluio criminoso que soma as oligarquias políticas e os governantes.

                                   A primeira frase de “Assalto ao poder” afirma: “O crime organizado pretende a tomada do poder”. Quando olhamos a Brasília de hoje, nada mais adequado. As organizações criminosas estão encasteladas no poder. Após um exaustivo trabalho de esclarecimento, através dos meus livros, tenho a impressão de que foi tudo inútil. Com mais de três mil páginas publicadas em livros e artigos, não vejo nenhum avanço no processo civilizatório brasileiro. Nosso sistema penal, que já acumula mais de 700 mil prisioneiros, é desigual, deseducador e insalubre. Um dos piores do mundo. Ali não se recupera ninguém. O sujeito entra como ladrão vulgar e sai como chefe de quadrilha ligado às facções. Pior: o crime organizado detém o controle da vida carcerária.

                                   Enquanto isso, mesmo quatro anos após o início da Lava Jato, políticos e empresários continuam roubando, como se não houvesse amanhã. Influenciados pela grande mídia, somos induzidos a acreditar que crime organizado é aquela garotada em cima das lajes das favelas, portando fuzis automáticos. Ledo engano. O crime organizado porta paletós e gravatas. E vai até Wall Street, a capital financeira do mundo.

                                   Só para desbaratar a “Célula R” do PCC, em São Paulo, também conhecida como “Sintonia das Gravatas”, a polícia prendeu e acusou 41 advogados e o Secretário Estadual de Direitos Humanos. Todos estariam a serviço da liderança da organização, chamada de “Sintonia Geral”. O grupo daria assistência jurídica ao núcleo dirigente do PCC e faria “tarefas de inteligência”, como descobrir parentes e endereços de diretores de presídios e agentes penitenciários. Ou seja: paletós e gravatas somados às armas do crime.

                                   Após a publicação de “Assalto ao Poder”, resolvi me despedir do tema. Mas ele me persegue, com base na realidade crescente da atuação criminosa, que hoje está no poder. Fiel à minha vocação de escrever sobre história contemporânea do Brasil, publiquei um novo livro em 2015: “Araguaia – Histórias de amor e de guerra”, sobre o maior, o mais longo e feroz enfrentamento entre a esquerda e o regime militar. Como esta publicação, estive mais uma vez entre os finalistas do Prêmio Jabuti. Mas não levei. Os outros autores eram muito melhores.

                                   Agora comemoro tristemente a 14ª edição de “CV-PCC”, em um país de poucos leitores.  

            

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
Esse post foi publicado em Politica e sociedade. Bookmark o link permanente.

2 respostas para Lançada a 14ª edição de “CV-PCC: A irmandade do Crime”. O livro faz parte da primeira trilogia nacional sobre violência urbana e crime organizado, duas vezes vencedora do Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro (CBL).

  1. Não foi em vão! Acabei de comprar o seu primeiro livro sobre o Comando Vermelho. Estou pesquisando sobre o tráfico internacional, gostaria de um dia te entrevistar.

    Curtir

  2. Guilherme Varandas disse:

    Olá, gostaria de comprar a trilogia, mas não encontro e 1º livro vendendo de jeito nenhum. Quanto aos 2 últimos, o kit com os 2 também está esgotado em todas as livrarias. Gostaria de saber onde encontro todos eles. Obrigado, Guilherme.

    Curtir

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s