
Carmem Lúcia, do STF: pronunciamento em defesa da democracia. Imagem TV Justiça.
A ministra Carmem Lúcia, na abertura da sessão de hoje (30 maio) na Suprema Corte, fez um longo pronunciamento em defesa da democracia no país. Afirmou que o judiciário estará pronto a garantir os direitos do povo brasileiro. Sabe-se lá o que ele quis dizer com isso. Ameaça de golpe militar? Ameaça às eleições livres em outubro? O ministro-chefe da Secretaria de Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen, tratou de afirmar que os faróis dele estão voltados para o futuro e não para o passado, como a descartar qualquer conspiração militar.
No entanto, há forte inquietação no meio militar. Oficiais generais imaginam o seguinte cenário: a Procuradoria-Geral da República apresenta uma terceira denúncia contra Michel Temer; o STF aceita, mas a Câmara dos Deputados recusa mais uma vez; o Alto Comando não consegue controlar a revolta nas casernas e decide assumir a liderança para evitar a quebra na hierarquia; impede Temer, Rodrigo Maia e Eunício Oliveira, todos suspeitos de corrupção. A saída é dar posse a Carmem Lúcia para um mandato tampão e garantir as eleições, que seriam transferidas para novembro. Tudo isso – evidentemente – é dito a boca pequena, discretamente.
Trata-se, é claro, de uma violação dos ritos constitucionais. Mas teria significativo apoio popular, o que dá à violação um perfume sedutor. Não seria a primeira vez que o movimento militar iria se comprometer com eleições livres para breve. Em 1964, o general Humberto de Alencar Castelo Branco, chefe da conspiração contra Jango, prometeu eleições para o ano seguinte. O que houve foram 21 anos de trevas. Este é um país de memória curta – e muita gente acredita que uma intervenção militar é solução para os gravíssimos problemas do Brasil. Mesmo entre os pensadores em uniforme, há sérias dúvidas acerca do que fazer com um país desgovernado. Não há um projeto estratégico. Um golpe seria repudiado em todo o mundo. Verdadeiro tiro no pé!
Na greve dos caminhoneiros, claramente estimulada pelo patronato de direita, até Jair Messias Bolsonaro correu a dizer que o caos não interessa nem a ele nem ao país. Apressado, Jair já se considera eleito. O ministro da educação ou cultura dele poderia ser o ator Alexandre Frota, um de seus conselheiros. Credo em cruz!
Os órgãos de segurança, em pleno século 21, ressuscitaram a expressão “elementos infiltrados”, típica da ditadura. Só não dizem que são comunistas, porque não existem mais comunistas para servirem de bodes expiatórios. Quem, afinal, são esses infiltrados? O presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros, uma das lideranças da greve, é tucano e chegou a disputar um cargo de deputado pelo PSDB, segundo a Folha de S. Paulo.
Ainda há 200 pontos de concentração de caminhoneiros nas estradas brasileiras. Mas a greve chega ao fim e o abastecimento está sendo normalizado. Pedro Parente, em meio a tudo isso, decretou hoje mais um aumento da gasolina. E o desgoverno Temer não dá a menor garantia de que o preço dos combustíveis (fora o diesel) vá voltar aos níveis de antes da greve. Estamos entregues ao chamado “livre mercado”, mas isso quer dizer: entregues aos cartéis de empresas que determinam os preços essenciais.
A greve também tem um saldo trágico: três pessoas morreram, duas atropeladas durante os protestos e um caminhoneiro assassinado a pedradas em Rondônia.
E a TV Globo pergunta: que país você quer para o futuro?