Imprensa internacional diz que democracia no Brasil está ameaçada. Cresce nas redes sociais uma terceira via, de centro-esquerda, com Ciro. Dá tempo?

                                    A grande mídia internacional vem alertando: a jovem democracia brasileira está em perigo, uma vez que a eleição de domingo está polarizada entre extremos, descartando quase completamente o centro. As agências de risco americanas, que balizam investimentos em nosso país, chegam a dizer que a situação é crítica e que o desenvolvimento econômico por aqui será adiado por muitos anos. Alguns observadores levantam a hipótese de conflitos graves, que podem levar à violência e choques armados, sugerindo ruptura institucional.

                                   Pode parecer um exagero. Mas a campanha deste ano já se deu em um cenário conturbado. As redes sociais, em tom raivoso, influenciaram mais o eleitor do que o rádio e a TV, a ponto de o campeão nas pesquisas nem aparecer para o grande público. Não foi sequer ao debate na TV Globo, esnobando a Vênus Platinada, enquanto dava entrevista para uma emissora evangélica. A discussão política na Web, se é que se pode dizer assim, foi na base de socos e pontapés. Muitas amizades foram desfeitas e a raiva tomou conta. Infelizmente, a Internet também esteve cheia de mentiras e notícias falsas, confundindo as pessoas. A Justiça Eleitoral fracassou redondamente no combate às fake news. E o ódio e a intolerância chegaram ao limite do suportável, dando a entender que, de fato, como alertam os analistas estrangeiros, a violência pode transbordar para as ruas. É bom não esquecer que Bolsonaro sofreu grave atentado e que um candidato ao governo de São Paulo foi emboscado a tiros em uma estrada do interior do estado.

                                   A polarização entre Bolsonaro e Haddad, ambos vistos como radicais, assusta a classe media. Isto talvez explique o surgimento de um movimento nas redes sociais em busca de uma terceira via, de centro-esquerda, encabeçada por Ciro Gomes. Supostamente, Ciro teria mais chances de vencer o capitão Bolsonaro no segundo turno. Para tanto, o pedetista teria que desbancar o candidato do PT, o que parece quase impossível em apenas dois dias. A oportunidade para um frente do campo progressista já passou. Isso teria que ser negociado antes, com projeto político comum, conciliando interesses. Agora é tarde.

                                   Mesmo diante da iminente vitória do capitão, Haddad ainda pode virar o jogo, se receber uma ampla transferência de votos de Ciro, Boulos, Marina e Alckmin. Destes, o PT pode contar apenas com os votos do PSOL. Ciro já declarou que não tem negócio com o PT. O PSDB de Alckmin debandou rumo a Bolsonaro. O eleitor de Marina é uma incógnita. Ou seja: mais uma vez, incapaz de se reunir, o campo progressista caminha para uma nova derrota. E olha que foram muitas na história recente do país.  

                                    

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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