Antes de mais nada, o voto popular, livre e independente, graças a Deus, se manifestou sem conflitos e sem violência. A vontade das urnas, em um país dividido, apontou o desejo de resolver a eleição para presidente em dois turnos. Bolsonaro e Haddad vão se reencontrar no dia 28 deste mês. O Brasil volta a dar uma demonstração ao mundo de ser o país que apurar mais rapidamente uma eleição que envolve 144 milhões de votantes. Tudo em ordem. Trata-se de uma marca do amadurecimento da democracia em nosso país.
Mas a voz das urnas é rouca.
Jair Bolsonaro, militar da reserva do Exército, com uma plataforma radical de direita, defensor de políticas extremistas, obteve 46% dos votos. Em um país assolado pela corrupção, com uma violência epidêmica, ele conseguiu catalisar o sentimento popular de impotência e revolta. Provavelmente, a seguir as coisas como estão, será o novo chefe do governo brasileiro. Não se sabe muito bem quais são as propostas dele para o país, já que não apareceu no horário político e foi vítima de um atentado terrorista que o feriu gravemente. Por pouco não morreu. Evitou o debate público. Não é um orador convincente. Costuma fazer mais ameaças do que propostas. O silêncio tem sido a melhor estratégia do capitão Bolsonaro.
No campo oposto está Fernando Haddad, candidato do PT, tido como sucessor de Lula, o líder popular mais famoso do Brasil. Professor universitário, ex-prefeito de São Paulo, Haddad consegui 29% dos votos válidos, garantindo o 2º turno nas eleições. Mas o candidato é visto como um espantalho de Lula. E o antipetismo é o sentimento mais forte no cenário eleitoral. O PT, subordinado ao culto à personalidade de Lula, atrasou o lançamento da candidatura de Haddad por semanas, comprometendo o resultado. Chegar ao 2º turno é uma proeza que se deve ao desempenho do próprio candidato e ao fato de os governos petistas terem beneficiado o povo pobre, especialmente no Nordeste, única região onde Haddad venceu. A memória coletiva em relação à Era Lula foi fundamental.
É preciso fazer uma reflexão relacionada com o fato de um candidato medíocre como Bolsonaro ter alcançado um resultado tão significativo. A grande maioria silenciosa da classe media, cheia de rancores e ódios de classe, finalmente encontrou uma forma de expressão. Primeiro nas redes sociais, onde podia falar quase anonimamente. E – depois – por meio de um político que representava os seus interesses de revanchismo contra aquele bando de petistas, sindicalistas e comunistas de um modo geral. Como se ainda existissem comunistas no Brasil. (Você conhece algum?) O fato é que Bolsonaro se tornou o porta-voz de toda essa gente. A maioria silenciosa, cheia de rancores, encontrou uma expressão política.
É quase impossível barrar esse movimento.
Sobre Carlos Amorim
Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão.
Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano.
Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc).
Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes.
Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005).
A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações.
Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada.
Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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