
Bolsonaro no JN. Imagem de divulgação.
O fato mais notável da quarta-feira, 15 de maio, o dia em que dezenas de milhares de estudantes e professores saíram às ruas para protestar contra o corte de verbas na educação pública, foi que a TV Globo assumiu o papel de oposição ao governo Bolsonaro. Desde cedo, a partir do Hora 1, às quatro da manhã, passando pelo Bom Dia e por todos os demais telejornais, fez uma verdadeira convocação ao protesto. A ideia era uma greve de 24 horas nas universidades, colégios federais, escolas técnicas e que pudesse contar com apoio de instituições particulares de ensino. Fo o que aconteceu. As 200 maiores cidades brasileiras, inclusive todas as capitais, foram palco de reivindicações.
A partir do Jornal Hoje, a Globo passou a divulgar insistentemente, em todos os intervalos comerciais, que o presidente Jair Bolsonaro, em visita a Dallas, no Texas, havia chamado os estudantes de “imbecis úteis” e “massa de manobra”. Isto parece ter insuflado o movimento. Em algumas capitais, como Fortaleza e São Paulo, o número de manifestantes dobrou. A Globonews deu tratamento de “urgente” aos protestos, gerando ao vivo, simultaneamente, uma sessão da Câmara dos Deputados. Lá, o ministro da Educação era questionado pelos parlamentares.
O canal de notícias de maior audiência dividia a tela com o protesto na Avenida Paulista, mostrado a contradição entre o que dizia o ministro e a reação nas ruas. E foi assim o dia todo, em todos os veículos do grupo. Chegou até ao Jornal da Globo, depois da meia noite. E continuou no dia seguinte, repetindo as imagens.
Essa postura, apesar de surpreendente, não tem nada de novo. A TV Globo convocou as grandes manifestações dos “caras pintadas” contra o governo Collor. Também convocou a onda de protestos de 2013, um movimento que supostamente era contra a corrupção, mas cujo alvo era Dilma Rousseff, Lula e o PT. Evidentemente, a TV Globo não cria esses sentimentos. Ela os insufla conforme os interesses do grupo empresarial. Jair Bolsonaro já disse aos quatro ventos que “a Globo é inimiga”. E o que está em jogo?
O que está em jogo é a bilionária verba publicitária do governo e das empresas públicas. Tais verbas somam a maior parte do dinheiro que circula no mercado publicitário brasileiro. Do total investido em anúncios e patrocínios no ano de 2018, 61% ficaram com a TV aberta. E a Globo tem mais de 80% dessa fatia. Em números absolutos, no ano passado, a TV Globo faturou pouco mais de 10 bilhões de reais, resultado 10% abaixo do esperado. De acordo com o balanço oficial da emissora, só não deu prejuízo por causa dos investimentos bem-sucedidos no mercado financeiro. A emissora, aliás, sempre anunciou lucros moderados. Diz que gasta tudo na confecção da programação.
Por trás desse cenário está a razão de vermos a Globo passeando no campo oposicionista. Talvez porque queira derrubar o capitão, como fez com Collor e Dilma. Talvez porque queira ganhar mais para se comportar. A ver como será no dia 30.
Sobre Carlos Amorim
Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão.
Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano.
Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc).
Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes.
Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005).
A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações.
Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada.
Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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