Bolsonaro está vencendo a guerra contra o confinamento com ampla desobediência da população às regras da quarentena. O vírus chega às periferias e faz um tremendo estrago, enquanto o governo omite informações.

general edudardo pazuello

O general Eduardo Pazuello, novo chefe de operações de saúde no país. Imagem do portal O Globo.

                                   O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, nomeia general para comandar as ações do governo na pandemia, cujo objetivo é claramente o fim do afastamento social e a retomada do trabalho. E não importa quantas serão as vítimas. Nas palavras do presidente Jair Bolsonaro, morra quem tiver que morrer, desde que a atividade econômica seja retomada a qualquer preço. Os números de hoje (22 de abril) registram mais de 3 mil mortos e dezenas de milhares e casos confirmados de Covid-19.

                                   Se as avaliações do setor de saúde estiverem corretas, a atual contabilidade da tragédia representaria apenas 10% a 12% do número real. Ou seja: cerca de 30 mil mortos e centenas de milhares de pessoas contaminadas. Governos e prefeituras estão contratando milhares de coveiros e máquinas para abrir sepulturas. Não há mais velórios e os caixões são lacrados. Estão autorizados enterros em covas coletivas. Parece mesmo o cenário de uma guerra.

                                   As atitudes do presidente e as manifestações da ultradireita contra a democracia, insuflam a desobediência civil da quarentena. E tudo indica que encontram eco na população. Os engarrafamentos voltaram, os mercados estão cheios de pessoas sem máscara e luvas (até porque são raras e caras), os bailes funk estão a pleno vapor nas favelas e comunidades pobres. O tráfico de drogas continua bombando nas cracolândias, onde ocorrem aglomerações de usuários.

                                   Temos mesmo um país dividido, porque o combate ao coronavírus virou uma questão ideológica, política e eleitoral. Vinte e dois governadores assinaram um manifesto contra a flexibilização das medidas sanitárias, mas outros 7 se recusaram. Prefeitos ordenaram a reabertura do comércio. E até São Paulo, o estado mais atingido, já anunciou um plano de retomada da atividade econômica. A pandemia chegou aos pobres, que agora registram o maior índice de mortalidade e contaminação pela doença. Um único bairro da Zona Leste da capital paulista já anota 10 mortes por dia.

                                   O ministro Nelson Teich, segundo dizem o mesmo médico que assinou os atestados para Bolsonaro não participar dos debates eleitorais de 2018, não fala com a imprensa. As entrevistas coletivas diárias foram suspensas, de modo que não se tem uma atualização dos números da tragédia e das providências governamentais. A nomeação do general para a chefia das operações da saúde aumenta a desconfiança de que a comunicação vai ficar mais difícil.

                                   Certa vez li um livro sobre a guerra na Criméia (1853-56) chamado “A Primeira Vítima”, no qual o jornalista Phillip Knightley explica: “nas guerras, primeira vítima é a informação”. Aqui parece que temos uma guerra contra o vírus.           

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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Uma resposta para Bolsonaro está vencendo a guerra contra o confinamento com ampla desobediência da população às regras da quarentena. O vírus chega às periferias e faz um tremendo estrago, enquanto o governo omite informações.

  1. Samara Bergolucci disse:

    Pior que esse governo autoritário, são os milhões de cretino que votaram nele. Esses deveriam contrair um pouco de vírus para ver o que d bom.

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