
Regina Duarte na CNN. Imagem do portal Notícias da TV.
Há quem diga que ela estava drogada, ao falar ao vivo para a CNN Brasil. Não acredito nisso. Penso que ela é mesmo despreparada como pessoa e indefinível como figura pública, fora das novelas da Globo, como gestora da área cultural de Bolsonaro. Na verdade, não se diferencia muito de outros próceres do Novo Regime. Provavelmente, não teve uma conversa íntima com Jesus no alto de uma goiabeira, como Damares. Também não reproduziu discurso de Yoseph Goebbels, o ministro da propaganda nazista, sobre cultura, com arranjos cenográficos, como fez um de seus antecessores. Pode não ter sido tão explícita em relação ao autoritarismo fascista. Mas disse e fez coisas absurdas.
Cantou, ao vivo, o hino da campanha brasileira na Copa do Mundo de 1970, quando conquistamos o tricampeonato mundial de futebol. “Todos juntos, vamos, pra frente Brasil, salve a seleção”. E ela disse: “como era bom cantar isso!”. Aquilo aconteceu durante o governo do general-presidente Emílio Garrastazu Médici, a quarta gestão do regime militar. Foi o período de maior violência institucional que já vimos, chamado de “terrorismo de Estado”, quando opositores do regime eram sequestrados, torturados e mortos nos porões da ditadura. Parece que Regina não leu os livros de história. Será que leu alguma coisa?
A “Viúva Porcina”, protagonista de um novela censurada e depois exibida quase na marra, tal o poder de comunicação da TV Globo, e de seu dono, o Doutor Roberto Marinho, teve a graça de afirmar que essas questões (ditadura, sequestros, homicídios) eram “coisas do passado”. Confusa, esfregando as mãos, enrolando e desenrolando uma folha de papel frente às câmeras, acabou por encerrar a entrevista quando a atriz Maitê Proença, contemporânea dela na Globo, fez cobranças sobre o papel da Regina no ambiente cultural. “Vocês estão ressuscitando cadáveres”, “isto não estava combinado”, dando a entender que havia um acordo anterior. O evento deveria estar sob certo controle?
O fato é que a entrevista de Regina Duarte se transformou em coisa pândega nas redes sociais. Tão pândega quanto o líder dela, Jair Bolsonaro, a quem declarou fidelidade. “É o melhor para o Brasil”. Mas é preciso levar em conta que a palhaçada tem objetivo político. Enquanto o público se diverte com tal paspalha, as questões fundamentais do país são deixadas de lado. Não se fala da crise, tanto sanitária (milhares de mortos) quanto econômica (previsão de menos 5% de crescimento do PIB). Os palhaços ocupam o picadeiro, desviando a atenção.
Como se viu na segunda metade do Império Romano, “pane et circenses”. Pão e diversão. Mas, no Patropi, não tem pão e a diversão está escassa. De fato, enquanto Regina Duarte ria na CNN, enterrávamos 600 pessoas vítimas do coronavírus.
Sobre Carlos Amorim
Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão.
Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano.
Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc).
Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes.
Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005).
A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações.
Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada.
Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.