Família Bolsonaro insufla golpe militar: “Acabou, porra!” – diz o presidente, sinalizando que está na hora de agir contra o Congresso e o STF. Generais respondem: “não vai haver golpe nenhum!”.

 

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Bolsonaro prega golpe. Militares respondem .Imagem do portal Amazonas. 

                                  O general Santos Cruz, que já integrou o governo Bolsonaro e é considerado uma das vozes mais ativas na caserna, declara na primeira página de O Estado de S. Paulo: “As Forças Armadas são permanentes e não se confundem com governos, que são passageiros”. O general Hamilton Mourão, vice-presidente, também na capa do  jornalão paulista, diz que golpe militar “está fora de cogitação”. Os comandantes-em-chefe das três armas seguem em silêncio.

                                   Enquanto isso, Jair Bolsonaro vocifera contra os poderes constituídos. Como o Supremo Tribunal decidiu que vai continuar com o inquérito que apura o esquema das fake news no país, supostamente coordenado por um “Gabinete do Ódio”, instalado com sala e tudo no próprio Palácio do Planalto e comandado pelo filho 03, Carlos Bolsonaro, o Carluxo, o capitão perdeu as estribeiras mais uma vez. Agora diz que “chega”, como se tivesse perdido a paciência. “Acabou, porra!”, como na iminência de um autogolpe. Tudo parece só mais um delírio do presidente, porque a realidade do país, castigado pela pandemia, não indica nada disso.

                                   Não há multidões nas ruas apoiando o presidente-capitão, a não ser pequenas manifestações de alguns militantes radicais. Aliás, trata-se de um ex-capitão paraquedista do Exército, já que foi processado pela Justiça Militar em 1987, supostamente acusado de terrorismo, e deu baixa. Tecnicamente, não é mais militar. Mas gosta da assim se definir. Aliás, de novo: na campanha eleitoral de 2018, apropriou-se do slogan da Brigada Paraquedista do Exército: “Brasil acima de tudo – Deus acima de todos”.

                                   No ambiente militar, Jair Messias Bolsonaro faz sucesso na baixa oficialidade e entre cabos e sargentos. Mas é visto com extrema desconfiança nos altos comandos. O discurso vociferante do presidente preocupa o generalato, porque o Brasil, uma das dez maiores economias do mundo (pelo menos até a pandemia), tem compromissos internacionais. Os ataques do chanceler Ernesto Araújo contra a China, maior parceiro comercial do país, assusta todo mundo e ameaça colocar o agronegócio brasileiro na oposição. As falas estapafúrdias de Abraham Weintraub, ministro da Educação, estão a ponto de criar uma crise diplomática com Israel. Ele já disse que o nazismo era de esquerda e pediu a prisão “daqueles vagabundos do STF”.

                                   Outra voz ativa do governo, a ministra Damares Alves, dos Direitos Humanos, na famosa gravação da reunião ministerial de 22 de abril, pergunta idiotamente: “não dá para prender governadores e prefeitos?”. Eduardo Bolsonaro, o filho 02, chegou a pregar uma reedição do AI-5 no país, caso a esquerda decida radicalizar. Qual esquerda iria radicalizar? Apoiadores do presidente afirmam que estamos na iminência da “tomada do poder pelos comunistas”. Quais? Onde? Para responder à última pergunta, radicais apoiadores de Jair Messias garantem que os russos vão invadir o Brasil a partir da Venezuela. E Vladimir Putin pode ser considerado comunista? É tudo uma sandice total!

                                   No entanto, o discurso do ódio segue mantendo apoiadores. Os institutos de pesquisa de opinião informam que a rejeição ao presidente aumenta. Mas também afirmam que a base de apoio continua firme em torno dos 33%. Historicamente, o PT tinha 34% de apoio. E elegeu Lula na quarta tentativa à presidência. Não é de espanar que Jair Messias Bolsonaro chegue à eleição presidencial de 2022 com grandes chances de vencer.

                                   Quem viver verá!

                                                          

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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